segunda-feira, dezembro 25, 2006






A Esperança




Injeta sangue
no meu coração,
enche-me até o bordo das veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
Não vivi até o fim o meu bocado terrestre,
sobre a terra
não vivi o meu bocado de amor.
Eu era gigante de porte,
mas para que este tamanho?
Para tal trabalho basta uma polegada.
Com um toco de pena, eu rabiscava papel,
num canto do quarto, encolhido,
como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu farei de graça:
esfregar,
lavar,
escovar,
flanar,
montar guarda.
Posso, se vos agradar,
servir-vos de porteiro.
Há, entre vós, bastante porteiros?
Eu era um tipo alegre,
mas que fazer da alegria,
quando a dor é um rio sem vau?
Em nossos dias,
se os dentes vos mostrarem
não é senão para vos morder
ou dilacerar.
O que quer que aconteça,
nas aflições,
pesar...
Chamai-me!
Um sujeito engraçado pode ser útil.
Eu vos proporei charadas, hipérboles
e alegorias,
malabares dar-vos-ei
em versos.
Eu amei...
mas é melhor não mexer nisso.
Te sentes mal?
Tanto pior...
Gosta-se, afinal, da própria dor.
Vejamos... Amo também os bichos -
vós os criais,
em vossos parques?
Pois, tomai-me para guarda dos bichos.
Gosto deles.
Basta-me ver um desses cães vadios,
como aquele de junto à padaria,
um verdadeiro vira-lata!
e no entanto,
por ele,
arrancaria meu próprio fígado:
"Toma, querido, sem cerimônia, come!"


Vladimir Vladímirovitch Maiacoviski

2 comentários:

Anônimo disse...

sonho poemas
de luz
danço poemas
das trevas

normalmente
amanheço em cinzas

Anônimo disse...

"...e é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente aonde quer que a gente vá..."

Não ofenda, mesmo que sem querer, a quem você não conhece; todo mundo é um medo; todo mundo é um bem...