Em Julho de 2004, há quase dezesseis anos, comecei a escrever o blog Palavra de Pantera. Nos primeiros quatro anos, postei com bastante frequência, depois comecei a rarear. Mas sempre publicava uma coisa outra, para manter a onça rugindo. Agora, com a #mariamarruá/ #jumamarruá, na nova versão da novela #pantanal, a nossa Irena Gallier Cat People tupiniquim no perímetro, achei oportuno reviver postagens que contam através de imagens, mitos, sonhos e poemas um pouco da saga da felina.
Espero que se divirtam! Minha ideia é atualizar algumas publicações, desbravando novamente a antiga selva no Blogger. Caso me anime mesmo, quem sabe até uma página no Instagram.
Achei bonitinha a animação explicativa que postei abaixo. A história da mulher que vira felino é secular, como vocês poderão observar na leitura das postagens mais antigas.
No lo sé, estiré la cuerda Desmonté, siempre las misma piezas Te has quedado detrás de la puerta No has vuelto a llamar, no te he visto pasar Y no me has dicho por qué Yo estaba esperándote No había nada que hacer Siento el veneno en mi piel
Todos preguntan por qué he elegido ser La gata negra Este corazón no quiere esperar Minutos de tregua Y he empezado a pensar que en realidad Nunca me fallaron las fuerzas Me gusta la velocidad Cuando el frío quema
Cuando el frío quema
Tú nunca llegas puntual y ahora que te veo de frente
Podría jurar que tú también te alegras de verme Si quieres espabilar En este lado hay mucho por desordenar
Todos preguntan por qué he elegido ser La gata negra Este corazón no quiere esperar Minutos de tregua Y he empezado a pensar que en realidad Nunca me fallaron las fuerzas Me gusta la velocidad (Me gusta la velocidad) Cuando el frío quema Cuando el frío quema
Todos preguntan por qué he elegido ser La gata negra Este corazón no quiere esperar Minutos de tregua Y he empezado a pensar que en realidad Nunca me fallaron las fuerzas Me gusta la velocidad
2 traduções de "Black rook in rainy wather"/ Sylvia Plath
Imagem de Raquel Frota (1,50 X 1,20 misturado em media na tela)
a gralha negra em tempo de chuva
Lá
no alto, num ramo firme
arqueia-se
uma gralha negra toda molhada
arranjando
e voltando a arranjar as penas à chuva.
Não
espero qualquer milagre
nem
nada
que
venha lançar fogo à paisagem
no
interior dos meus olhos, nem procuro
mais
no tempo inconstante qualquer desígnio,
mas
deixo as folhas manchadas cair conforme caem,
sem
cerimónia ou maravilha.
Embora
- admito-o - deseje
ocasionalmente
alguma resposta
do
céu mudo, não posso honestamente queixar-me:
uma
certa luz pode ainda
surgir
incandescente
da
mesa da cozinha ou da cadeira
como
se um fogo celestial tornasse
seu,
de um instante para outro, os mais estranhos objectos,
assim
consagrando um intervalo
de
outro modo inconsequente
por
nos dar grandeza e glória,
ou
até amor. De qualquer modo, caminho agora
atenta
(pois isso poderia acontecer
mesmo
nesta paisagem triste e arruinada); descrente,
mas
astuta, ignorante
de
que um anjo se decida a resplandecer
repentinamente
a meu lado. Apenas sei que uma gralha
ordenando
as suas penas negras pode brilhar
de
tal maneira que prenda a minha atenção, erga
as
minhas pálpebras, e conceda
um
breve repouso com medo
de
uma neutralidade total. Com sorte,
viajando
teimosamente por esta estação
de
fadiga, acabarei
por
juntar um conjunto
de
coisas. Os milagres acontecem
se
gostares de invocar aqueles espasmódicos
gestos
de luminosos milagres. A espera recomeçou de
[novo,
a
longa espera pelo anjo,
por
essa rara, fortuita visita.
sylvia
plath
pela
água
tradução
de maria de lurdes guimarães
assírio
& alvim
1990
Gralha Negra em Clima Chuvoso
No ramo rijo lá em cima Curva-se uma negra gralha molhada Arranjando e rearranjando suas penas na chuva. Eu não espero que um milagre Ou um acidente
Incendeiem a vista No meu olho, nem busco ver no Clima desultório intencionalidade alguma, Deixando folhas manchadas caírem como caem, Sem cerimônia, nem portento.
Embora eu admita Desejar, ocasionalmente, algum retruque Da parte do céu mudo, não posso reclamar: uma Certa luz menor ainda é capaz de Saltar incandescente
Da mesa ou da cadeira da cozinha Como se um ardor celestial pudesse Possuir os objetos mais obtusos vez por outra – Destarte santificando um intervalo De outras feitas inconseqüente
Ao outorgar largueza, honra, dir-se-ia Mesmo amor. Agora, de qualquer jeito, Ando suspicaz (poderia acontecer até numa Paisagem baça, ruinosa como esta); desconfiada, Mas engajada; ignorante
De algum anjo que resolva refulgir Subitamente ao meu cotovelo. Só sei que Uma gralha ajeitando as penas negras fulgura Tanto que me prende os sentidos, arrasta Minhas pálpebras, e fomenta
Um breve alívio da temida Neutralidade total. Com sorte, Trilhando teimosa através dessa estação dura De fadiga, vou remendar Todo junto o monte
De conteúdos. Milagres se realizam, Se você se importa em chamar assim tais truques Espasmódicos de radiância. A espera se reinaugura, A longa espera pelo anjo. Por aquele raro, randômico descenso.
Ah, por favor, doçura, doçura, doçura! Acalma esses arroubos febris, minha bela. Mesmo em grandes folguedos, a amante só deve Mostrar o abandono calmo da irmã pura.
Sê lânguida, adormece-me com os teus afagos, Iguais aos teus suspiros e ao olhar que embala. O abraço do ciúme, o espasmo impaciente Não valem um só beijo, mesmo quando mente!
Mas dizes-me, criança, em teu coração de ouro A paixão mais selvagem toca o seu clarim!... Deixa-a trombetear à vontade, a impostora!
Chega essa testa à minha, a mão também, assim, E faz-me juramentos pra amanhã quebrares, Chorando até ser dia, impetuosa amada!
Paul Verlaine (tradução de Fernando Pinto do Amaral)
O vento frio me mata Um beijo me recria
Quem sabe uma noite inteira Ou na
metade de um dia Ela pise com patas de
pantera Sobre essas páginas frias
Elegante como quem volta Sem saber
aonde ia Ademir Assunção
E fala aos constelados céus
De trás das mágoas e das grades
Talvez com sonhos como os meus ...
Talvez, meu Deus!, com que verdades!
As grades de uma cela estreita
Separam-no de céu e terra...
Às grades mãos humanas deita
E com voz não humana berra...
Fernando Pessoa
perguntaram-me se tenho um destino - eu disse sim é tudo pra ele sim as horas passam e meu coração não tem tempo é tudo pra ele o tempo todo porque nada me é tão tudo quanto ele pra mim sim uma flor da montanha pra ele sim o grito piXado no muro é pra ele sim um dia sem lua embaixo das cobertas idem idem sim o beijo sem saliva é pra ele sim meu mundo sim um mau dia sim um segundo dia sim a calcinha rasgada sim não é simples assim mas sempre acontece o movimento no escuro o copo quebrado os lírios do jardim a palavra o silêncio é dele sim na manhã sim os beija-folhas sim a xícara azul sim o rascunho o lápis de sobrancelha e o mês que não existe mais o batom o pássaro a janela do banheiro as grades e o gato e a carta que caiu do maço e a que não enviei sim os seios sozinhos sim o tropeço sim eu comportada como açúcar cristal a vela rosa cor de avelã o blues a blusa com fio solto pra ele arrancar a lã sim sei lá ando tão comigo que me esqueço de mim a vassoura as goiabas pra baixo do tapete sim e a caixa de fósforo cavalo vermelho
hoje vou beber é rum e navegar na solidão rasgar um blues pirata desfraldar uma serenata
de proa à popa um céu azul nenen a água na altura dos olhos oh big boy baby ben bem
coleia serpente dourada faz a trilha acidentada siga à esquerda, saque o mapa, mire a arca de prata
esse blues é fortuito faço mais de uns mil por minuto amor sem sentido estrela e beijo caído
grita um outro blues uma espécie de proteção vate o velho pirata macaco que perde a mão
de proa à popa um céu azul nenem a água na altura dos olhos oh big boy baby ben bem
mais um gole querida em qualquer estalagem maldita aos trancos e barrancos da bebida estradas e sinais de vida
grita um outro grito um sussuro no meu ouvido diz o mar sem segredo o motim do firmamento
de proa à popa um céu azul nenem a água na altura dos olhos oh big boy baby ben bem
Monica Berger Letra & Melodia
Mau Amor
Há amores sobre os quais não se escreve nenhuma página, não se pronuncia palavra, não se arrisca letra. Amores calados entre o dia e a noite, entre a luz e a sombra, entre nós desatados no escuro. Há amores sem dó. Amores sem música. Amores nus escorregando no silêncio, amores do limbo. Amores sem poesia filhos de pássaros mudos. Amores tão cruéis que de tão crus nos tapam a boca. Amores que de amor não tem nada, amores de migalhas. Amores arrastados, amores de fantasmas no guarda-roupa. Amores sem sol, amores sem lua, amores sem flores, amores sem delicadeza alguma. Amores parcos, amores pobres, amores desolados. Amores tristes no canto da boca. Amores sem sal, amores gelados. Amores mortos. Amores abortados. Amores de que não se tem saudade, amores defeituosos, amores falhos, amores sem árvore, sem água.
Michael Jackson morreu. Tá certo. Ele era realmente um gênio. Talentoso pra caralho e o escambau. Mas na verdade nunca me interessou. Fora uma música ou outra do Jackson Five e do começo da carreira solo, nada do que ele fez me chamava a atenção. Acho o disco "Thriller" chato pra caralho, como aliás acho aquela época toda muito chata. Mas em nenhum momento estou aqui questionando a qualidade do cara. Ele era realmente bom pra caralho. Assim como acho Guimarães Rosa um gênio, só que eu não tenho saco pra ler Guimarães Rosa. Eu não tenho que ler tudo que é bom. Já disse por aqui, e fui muito criticado por isso, que tenho referenciais definidos e interesses definitivos. Posso ser fã de muita coisa do Sylvester Stalone, por exemplo, mas não suporto Pasolini. E com isso estou querendo dizer que Stalone é melhor que Pasolini? De maneira nenhuma. Só estou dizendo que prefiro assistir "Rambo 1" por exemplo, a ver qualquer coisa do Pasolini, só isso. Em resumo, me interessa muito mais ver o soldado John Rambo fazendo o xerife Will Teasle mijar nas calças a ver um bando de jovens comendo merda na suposta crítica ao fascismo de Saló. Então quero deixar claro que acho o Michael fodaço, mas que ele nunca me interessou. Só tenho em casa um compacto do começo de carreira e um MP3 do Jackson Five. E tá bom pra caramba.
Mas a Farrah Fawcett morreu. E essa sim foi muito importante pra mim. Eu tinha um poster na parede do meu quarto, que aliás eu dividia com meu irmão e depois com minha irmã. O quarto, não o poster. Esse era só meu, caramba. Mas o poster ficou lá na parede durante muito tempo. Assistia "As Panteras" só pra ver aquela loura magnífica em ação. Depois descobri que ela era esposa do Lee Majors (O Homem de 6 milhões de dólares) e confesso que tinha um certo cíume dele. Raciocinava assim: Como é que eu posso competir com um cara de 6 milhões de dólares? Logo eu, que não tenho sequer uma grana pra comprar uma tubaína? Aí eu ia junto com os outros coroinhas lavar o salão paroquial e então o padre dava uma grana e a gente ia até o boteco do seu Manoel e comprava tuba-cola e coxinha (sempre as famigeradas coxinhas). E eu nunca conseguia guardar nenhum dinheiro. Sendo assim, jamais poderia me equiparar ao sujeito que valia 6 milhões de dólares. Então ontem quando fiquei sabendo que Farrah Fawcett tinha morrido, foi como se um pedaço de minha infância tivesse morrido também. Uma infância singela e mais ou menos sacana, de um tempo que era possível imaginar que Farrah Fawcett estava na esquina da rua de nossa casa. O Marcelo Montenegro me disse ontem que a sua pantera preferida era a Kate Jackson. Eu sou mais óbvio que o Marcelo. Eu queria a Farrah Fawcett que pra mim só conseguiu ser substituída pela Adele Fátima de "Histórias que as nossas babás não contavam". Sem essa de Cheryl Ladd. Isso sim que é trocar a loira pela mulata. Mas eu nunca esqueci Farrah Fawcett. Nem quando gamei na Sandrinha, minha primeira paixão. Eu não conseguia tirar a Farrah da parede do meu quarto. Achava que a Sandrinha tinha obrigação de entender. E dessa vez, ela finalmente vai cair lentamente de lá, daquela parede de tábuas velhas pintadas de azul. Minha irmã finalmente vai se ver livre da visão daquela loura espetacular. Acho que hoje Fausto Fawcett (porque você acha que esse é o nome dele?) e eu estamos muito tristes. E ninguém vai nos tirar a razão. Tô até ouvindo o tema do seriado na minha cabeça nesse momento e aquele malaco do Charlie falando alguma merda. Boa noite, Farrah. Você nunca foi menos que impressionante.
quarta-feira, junho 03, 2009
O POETAÇO E O POETENTO
O poetaço e o poetento trombaram (que susto!) um com o outro – o verbo veio violento à boca do que era o mais douto:
“Eu faço, eu verso, eu aconteço e esse universo vai ver só: reconheces não haver preço em meu cantar de tom tão só?”
O mais humilde, nojentinho, viu fim no meio do caminho e disse ao vizinho, mesquinho: “Não, não beberei deste vinho
passado que você fermenta.” – enquanto a tardinha, agourenta, morria sem um som plangente, antipaticissimamente.
Obituário do Zé Rodrix (mantendo o email exatamente como zé mandou):
Por... Zé Rodrix!!! Data: Qua Jun 2, 2004 7:34 pm Assunto: Re: [M-Música] . Re: [M-Música] . Re: Paul McCartney - (era: Rock in Rio Lisboa…)
Felipe:
Em resposta a seu completissimo questionario passo-lhe às mãos minhas especificações para passamento e eventual necrologio..
Há alguns anos, gostaria de ter a causa-mortis preferida de meu pai: assassinado aos 98 anos de idade com um tiro dado por um marido ciumento que o tivesse pego em pleno ato… mas hoje nao mais. Pode ser de fulminante ataque cardiaco, dentro da minha biblioteca, perto o suficiente da familia e dos amigos mas afastado o bastante para que, alertados pelos cachorros da casa, ja me encontrem morto, com um sorriso nos labios.
Pode sepultar-me em pleno mar, sob a forma de cinzas, ja que nao poderei ser sepultado in totum no jardim da minha casa. Se conseguirem isso, no entanto, que nao cobrem entradas para visitação, à moda do irmão da princesa: deixem que alem das pessoas os passarinhos e os animais da casa se refestelem no lugar, renovando diariamente o eterno ciclo da Natureza.
Ao enterro devem, atraves de convite formal, comparecer todos que foram aos meus lançåmentos de livro: nada mais parecido com um velorio do que isso.
Peço parcimonia nos efluvios emocionais: já as risadas devem ser francas e sem limite. Creio inclusive que prepararei com antecedencia uma fita de piadas gravadas para animar o velorio e manter o pessoal na boa.
Como dizia o Bozo, "sempre rir, sempre rir…."
La so deixarei a mim mesmo: mesmo os inimigos que comparecerem para ter certeza de que estou realmente morto podem voltar para casa em paz. Nao pretendo puxar a perna de ninguem à noite e nem assombra-los depois de morto.
Já os amigos podem contar comigo: havendo vida após a morte, volto para avisar, da maneira mais pratica e menos assustadora que me for possivel. A cremação deve ser feita depois que todos forem embora cuidar de seus proprios afazeres: enfrentar as chamas do forno terrestre ja será um gardne introito para a vida eterna.
Se conseguir, tentarei ser crooner da grande Orquestra de Jazz do Inferno, vulgarmente chamada de SATANAZZ ALL-STARS: como ja vou chegar la tenente ou capitão, dada a minha imensa taxa de maldades realizadas sobre a Terra, creio que nao será dificil. Meu castigo certamente será cantar MPBdQ por toda a eternidade, mas mesmo com isso ainda se pode encontrar algum prazer, assim na terra como no inferno….é o que veremos a seguir.
No enterro podem tocar de tudo, menos as musicas que eu tenha feito. Mnha morte servirá certamente para que se livrem nao apenas de mim mas tambem de minhas obras. Os herdeiros tambem nao merecem ouvi-las, sabendo que nada herdarão de minha lavra, porque, sendo eu adepto da politica do VAI TRABALHAR, VAGABUNDO, como meu pai fez comigo, ja tomei providencias para que essas musicas nao lhes rendam nem um tostão furado. Sendo um velorio moderno, recomendo musicas de carnaval antigo, as indiscutiveis, claro, com algumas discretas serpentinas e confetes jogadas sobre o caixão, fechado, naturalmente.
Morrer num Sabado à tarde, ser enterrado num Domingo antes do almoço, e estar completamente esquecido na manhã de Segunda, sem atrapalhar a vida profissional de ninguem: eis a perfeição que desejo na minha morte.
Muito grato. beijos Z
terça-feira, maio 19, 2009
viceversa
tenho medo de te ver necessidade de te ver esperança de te ver pernas bambas de te ver tenho vontade de te encontrar preocupação de te encontrar certeza de te encontrar pobres dúvidas de te encontrar tenho urgência de te ouvir alegria de te ouvir boa sorte de te ouvir e temores de te ouvir ou seja resumindo estou fodido e radiante talvez mais o primeiro do que o segundo e também viceversa.
Estudante, os mais íntimos colegas
Já viam nele um grande gênio então;
Ele também; e agiu segundo as regras
Passando em claro as suas noites negras.
E daí? canta a sombra de Platão.
Seus escritos lhe dão notoriedade;
Ao cabo de alguns anos ganha tão
Bem que não passa mais necessidades;
Seus amigos, amigos de verdade.
E daí? canta a sombra de Platão.
Seus sonhos todos vêm à luz do dia:
Casa boa, mulher, filhos, carrão,
Horta e pomar onde tudo crescia,
Poetas e Sábios sobre ele choviam.
E daí? canta a sombra de Platão.
Obra completa, já maduro, tosse:
"Meu projeto de jovem concluí;
Que os tolos clamem; um senão que fosse;
Pois algo ao nível do perfeito eu trouxe."
E a voz mais alto: E daí? E daí?
W. B. YeatsTradução de Ivo Barroso
terça-feira, março 03, 2009
ACERTE OU ERRE (Pares de premissas em busca de conclusões)
Nenhum careca necessita pente; Nenhum lagarto tem cabelo.
Alfinetes não são ambiciosos; Agulhas não são alfinetes.
Algumas ostras estão caladas; Pessoas caladas não são divertidas.
Rãs não escrevem livros; Algumas pessoas usam tinta para escrever livros.
Certas montanhas são intransponíveis; Todos os estilos podem ser transponíveis.
Nenhuma lagosta é insensata; Nenhuma pessoa sensata espera impossibilidades.
Nenhum fóssil pode ser em amor cruzado; Uma ostra pode ser em amor cruzada.
Um homem prudente evita hienas; Nenhum banqueiro é imprudente.
Nenhum sovina é altruísta; Só os sovinas guardam cascas de ovo.
Nenhum militar escreve poesia; Nenhum general é civil.
Todas as corujas são satisfatórias; Certas desculpas são insatisfatórias.
Lewis Carroll (tradução de José Lino Grünewald)
~*~
domingo, fevereiro 01, 2009
Me perguntaram porque parei de postar no Palavra de Pantera. Pois bem, eis a razão:
Mas não se preocupem, eu tenho pilhas de Pampers! E uma hora dessas, eu volto.
Em homenagem ao poeta Marcos Prado que faria hoje, dia 15 de dezembro, 47 anos, uma canção com letra de Marcos, Trindade e Thadeu.
Direto de Londres, Carrasco de Peru de Natal. Mais informações, no comentário do Trindade.
sábado, outubro 11, 2008
Ferenc Pinter / Anima Mundi
Tu e eu vivemos no interior de um ovo e eu, eu sou a clara envolvo-te e embalo-te dentro do meu corpo.
Canção de uma gueixa anônima
quinta-feira, julho 03, 2008
A Maçã - vol.2.
Se e quando algum deus a desenhou, a caneta estava falhando ou a impressora era antiga; caso no princípio tenha mesmo sido o Verbo, algumas palavras devem ter-se prendido na ponta da Língua. Qualquer que fosse a cosmogênese, o fato é que a garota nasceu pontilhada.
Nos primórdios, teve que lidar com seu eu arquipélago com a disciplina da marinha grega, tantas as lacunas do seu domínio e tamanho o medo de invasores: muitos calcanhares não definem um herói. Foi quando aprendeu a ler e a escrever, e passou a entender as garatujas que vinham nas garrafas enviadas pelos seus eus sobreviventes dos naufrágios, quanta solidão em cada um.
Talvez tenha vindo daí o gosto pelas garrafas, mas isso já é outra história: o importante é que as mensagens uniram pontos e ela começou a se tracejar primeiro em código morse, depois enfileirando hexagramas do I Ching. Muitas e pequenas mortes: em um dia era só sorriso, em outro não existia até o mês seguinte - ou sei lá quando, crescimento orgânico, vai saber, não tem padrões previsíveis.
Mas ela ainda tentava prever quando ele apareceu, contando os passos para não cair nos descontínuos abismos de sua pele. Teve medo quando ele achou que o suposto do seu traçado era uma insinuação ontológica, e até tentou guilhotiná-lo com o movimento de suas placas subcutâneas, mas ele também era poroso e os dentes dela só morderam-se a si mesmos. Ela não tinha mais nada a que se apegar, fora ao que se enlaçava voluntariamente às esquinas dos seus traços sobrepostos.
Agarrou-se a isso, então. Foi quando o labirinto de desenho brusco virou curvas concêntricas, uma só caverna de vazio reunido, galáxia pulsando no ritmo descontínuo dos músculos dele e do mundo, e suas lacunas viraram mil bocas de um vulcão que respirava o tempo e era erodido por todos os dias da vida.
E então, naquele segundo antes da vontade do cigarro, enquanto o que sobrara dela concluía que dissolver-se era mais divertido do que a ilusão do reunir-se, talvez tenha sido o Verbo a voz que cantava em coro contínuo que a volatilidade era sua ressurreição.
Seu corpo é uma praia deserta onde uma música desperta numa onda esperta e a deserda: espumas a ferem como pétalas.
Desterra, em tradução infinita, pérolas na orla do olhar, ilha que ainda está por ser escrita.
Rodrigo Garcia Lopes p.s.: Dia primeiro de Julho, no Porão Loquax do W0nka, a música e poesia de Rodrigo + o lançamento da Revista Coyote números 16 e 17.
já quis morar em nova york das muitas gentes amsterdam de todos os bagulhos tóquio dos mil sóis nascentes e até são paulo coberta de entulhos mas não, fui ficando por aqui mesmo o mundo é pequeno pra mais de uma cidade e minha vida é tudo que tenho curitiba entrou nela e, pra minha felicidade, no seu ecossistema existiam potys leminskis soldas prados trevisans mirans vellozos ivos alices buenos buchmanns guinskis koproskis rogérios pilares franças rettamozos paixões backs bárbaras shoembergers hirschs minha mãe meu pai tios avós irmãos primos pessoas do mundo inteiro como meus vizinhos
já quis morar em outros planetas, outras galáxias mas eu sou feito de curitiba da cabeça aos pés corre em minhas veias seus bosques, ruas, praças vanzolins, marildas, coronas, diedrichs, josés em cada uma de minhas moléculas, átomos, partículas collins kolodys lours farias tataras cardosos leprevosts góes vulcanis smaniottos claudetes dantes flávios recchias bettegas setos viralobos sneges justens pryscillas arnaldos octávios bergers e fui ficando cada vez mais parecido com curitiba e fui algemado a essa minha alma gêmea estrela de cada dia estendida por toda minha vida minha mulher, minha puta, minha santa, minha fêmea eu, do berço ao túmulo, minha caminhada inteirinha antonio thadeu wojciechowski, polaco da barreirinha
É, vou lá gravar de novo. Por ora, alguns antes não ditos, neste domingo, dia primeiro de junho, às 19 horas, na 91,3 MHz.
segunda-feira, maio 26, 2008
FEITO ESQUECENDO...
Feito esquecendo as pulsões mais brutais Encantasse fácil as almas puras E administrando delícias nos sais Das palavras travadas de amarguras Pudesse mesmo arrelvar com carícias As passadas pesadas de rotinas Sem que o medo patético partisse as Rimas com saturações assassinas, Eu levaria os versinhos na veia Feito o flautista aos ratos da aldeia E aos obrigados diria: de nada! Mas tem sempre um porém em toda via E a minha inspiração ficou vazia Lamentando a saliva derramada.
eu não fui barrada no aeroporto da Espanha. eu não sou cachorro não. eu não tenho uma irmã gêmea. eu não tive o rim roubado. eu não canto mais em bares. eu nunca vi um UFO. eu não bebo cerveja. eu não reenvio spams. eu não sou louca por chocolate. eu não gosto de ir em supermercado. eu nunca fui casada pela segunda vez. eu nunca fui processada. eu nunca bati o carro. eu não preciso de muito dinheiro, graças a deus, e não me importa não. eu não tive apendicite. eu não li crime e castigo. eu não mato mais cactus de sede. eu não sou regida por plutão. eu não sou cética, muito menos crédula. eu não sou antipática. eu não odeio ninguém. eu não sou um horror, nem má, nem madrasta. eu nunca fui diplomata. eu não faço chapinha nem uso lentes de contato. eu não freqüento nenhum tipo de igreja. eu não leio um livro de cada vez. eu não ligo muito para as pessoas, nem as que eu tenho MUITAS saudades. eu nunca morei fora do Brasil. eu não durmo em filmes. eu nunca pulei de bungee jump. eu nunca fiz uma cirurgia plástica. eu não atuo em nenhum partido político. eu nunca fugi de casa. eu não faço yoga. eu não tenho orgulho de ser humana. eu não gosto de guardar a louça. eu até desculpo mas não perdôo. eu não estou em nenhuma comissão julgadora. eu não gosto de aspargos. eu nunca fui batizada. eu nunca pisei na neve. eu não trabalho em banco, nem sou designer, nem professora de inglês, nem empresária. eu não suporto mentira ou gente falsa. eu não entendo pessoas que abandonam seus filhos. yo no creo en brujas pero que las hay... las hay. eu não acredito em duendes nem em conto de fadas. eu, ás vezes, não sou eu.
- Vem ao jardim na primavera, disseste. - Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz. Que posso fazer com tudo isso sem ti? E, se estás aqui, para que preciso disso?