O TIGRE
Há um tigre em casa
que dilacera por dentro aquele que o olha.
E somente tem garras para aquele que o espia,
e somente pode ferir por dentro,
e é enorme:
maior e mais pesado
que outros gatos gordos
e carniceiros pestíferos
de sua espécie,
e perde a cabeça com facilidade,
fareja o sangue mesmo através do vidro,
percebe o medo até da cozinha
e apesar das portas mais robustas.
Costuma crescer de noite:
coloca sua cabeça de tiranossauro
em uma cama
e o focinho fica pendurado
para lá das colchas.
Seu dorso, então, se aperta no corredor
de uma parede à outra,
e somente alcanço o banheiro rastejando, contra o teto,
como que através de um túnel
de lodo e mel.
Não olho nunca a colméia solar,
os negros favos do crime
de seus olhos,
os crisóis da saliva envenenada
de suas presas.
Nem sequer o cheiro,
para que não me mate.
Mas sei claramente
que há um imenso tigre encerrado
em tudo isso.
Eduardo Lizalde
Tradução: Plinio Junqueira Smith
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