sábado passado, no aniversário de estrela leminski, revi minha amiga alice. fiquei feliz - estava com saudade da comadre. alice não mora mais aqui, está em são paulo, cidade em que as coisas acontecem (em curitiba, tudo gira em torno de um único e invísível eixo). lá pelas tantas, voltei do banheiro ostentando um batom vermelho e alice comentou: - o que é este batom vermelho súbito de sua parte? - o que fez a minha estranha memória arriscar de cor um poema do leminski publicado no sangra cio, coletânea de poetas paranaenses, de 1980. depois de declamado, alice contou que este foi o primeiro poema que paulo fez para ela. resolvi blogar em homenagem a um amor que nunca acabou.
afinal: amor, então, também acaba? parece que nesse caso a vida transformou em rima.
minha cabeça cortada
joguei na tua janela
noite de lua
janela aberta
bate na parede
perdendo dentes
cai na cama
pesada de pensamentos
talvez te assustes
talvez a contemples
contra a lua
buscando a cor de meus olhos
talvez a uses
como despertador
sobre o criado mudo
não quero assustar-te
peço apenas um tratamento condigno
para essa cabeça súbita
de minha parte
p.leminski
sangra cio 1980
minha cabeça cortada
joguei na tua janela
noite de lua
janela aberta
bate na parede
perdendo dentes
cai na cama
pesada de pensamentos
talvez te assustes
talvez a contemples
contra a lua
buscando a cor de meus olhos
talvez a uses
como despertador
sobre o criado mudo
não quero assustar-te
peço apenas um tratamento condigno
para essa cabeça súbita
de minha parte
p.leminski
sangra cio 1980
2 comentários:
Imagino que a cabeça de Leminky não passaria pela janela
e, se passasse, afundaria o assoalho
muito boa recordação do poema! O Sangra:Cio tem uma série de poemas formidáveis, como por exemplo, o Contranarciso, um dos meus preferidos.
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