sábado, agosto 05, 2006

Translatio


a chamada nébula Caranguejo
uma costelação de reversos
na desgaláxia dos buracos negros

ou a órbita excêntrica de Plutão
meditada em Austin Texas
num party em lavaca Street

tomei mescalina de mim mesmo
e passei esta noite em claro
traduzindo "Blanco" de Octavio Paz


Haroldo de Campos, 1981

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Ainda me supreendem algumas"coincidências". Depois de postar os poemas cancerianos numa lan house em São Paulo, volto para Curitiba e me cai no colo o livro Transblanco de Octavio Paz, transcriado por Haroldo de Campos. O trecho acima é escrito por Haroldo em missiva para o poeta mexicano, que responde o seguinte:

"Recebi seu breve poema, escrito depois de ter traduzido "Blanco" sob a antiluz da nebulosa de Câncer, na órbita excêntrica de Plutão, iluminado pela única mescalina que nos faz transpassar o buraco negro da antigaláxia: a mescalina que produz o cérebro do poeta numa noite de insônia e criação. Um dia se descobrirá que, assim como há cores com luz própria que iluminam a escuridão interplanetária sem necessidade de sóis e estrelas - conforme acreditavam Bruno e Duchamp -, também há escrituras que brilham em plena noite (...)"

Um comentário:

marcelo sahea disse...

Adoro o livro, Zoe! É um dos meus favoritos. Haroldo e Paz. Baita dupla! Um beijo!