terça-feira, fevereiro 27, 2007

SANGUE PARA A SUAVE PANTERA


A poeta Marly de Oliveira encontra-se em estado grave no hospital Samaritano do Rio de Janeiro, precisando de doações de sangue. Recebi um comunicado de sua filha, Mônica Moreira, com os endereços para a doação:

Hospital São Lucas
de segunda a sexta das 8 às 13h
Travessa Frederico Pamplona, 32 / Copacabana
tel: 2547.0494/2545.4000 r:4128

Clínica São Vicente
de segunda a sex das 08 às 12 hs
Rua João Borges, 204/ Gávea
tel: 2259.1399

Basta dizer que é para a paciente
MARLY DE OLIVEIRA CABRAL DE MELO,
que está no CTI do HOSPITAL SAMARITANO.
Não deixar de levar o RG.




Epigrama



Bom é ser árvore, vento:

sua grandeza inconsciente.

E não pensar, não temer.

Ser, apenas. Altamente.



Permanecer uno e sempre

só e alheio à própria sorte.

Com o mesmo rosto tranqüilo

diante da vida ou da morte.


Marly de Oliveira

quinta-feira, fevereiro 15, 2007



Ivan Justen, Rodrigo G. Lopes, José do Porto - quem se habilita?



ENNUI


Tea leaves thwart those who court catastrophe,
designing futures where nothing will occur:
cross the gypsy’s palm and yawning she
will still predict no perils left to conquer.
Jeopardy is jejune now: naïve knight
finds ogres out-of-date and dragons unheard
of, while blasé princesses indict
tilts at terror as downright absurd.

The beast in Jamesian grove will never jump,
compelling hero’s dull career to crisis;
and when insouciant angels play God’s trump,
while bored arena crowds for once look eager,
hoping toward havoc, neither pleas nor prizes
shall coax from doom’s blank door lady or tiger.


Soneto inédito de Sylvia Plath de 1955
(a tradução de Nelson Ascher está aqui)

quarta-feira, fevereiro 14, 2007


apolo e dafne/ lorenzo bernini


DÉLFICA

Conheces tu, Dafné, este cantar de outrora
que junto do sicômoro ou sob os loureiros,
ou mirtos, oliveiras, trémulos salgueiros,
este cantar de amor... que volta sempre e agora?

Reconheces o Templo - peristilo imenso -
e os ácidos limões que teus dentes mordiam,
é a gruta onde imprudentes ébrios se perdiam
e do dragão vencido dorme o sémen denso?

Hão-de voltar os deuses que saudosa choras!
O tempo há-de trazer da antiguidade as horas;
a terra estremeceu de um ar de profecia...

Todavia a sibila de rosto latino
adormecida à sombra está de Constantino
e nada perturbou a severa arcaria.


Gerárd de Nerval
tradução/ Jorge de Sena

quinta-feira, fevereiro 08, 2007


O Gato



I
Por meu cérebro vai passeando,
Tal como em seu apartamento,
Um gato de todo encantamento,
e de inaudito miado brando,
Tanto o seu timbre é o mais discreto;
Mas, se é a voz calma ou iracunda,
Ela sempre é rica e profunda:
Este é o seu encanto secreto.
E a sua voz em mim infiltro,
No meu fundo mais tenebroso,
Doce qual verso numeroso
Consoladora como um filtro,
Abranda o mal que na alma lavra,
Contendo os êxtases e as pazes;
Para dizer as longas frases
Nunca precisou da palavra.
Certo não há arco que fira
Meu coração, este excelente
Órgão e o faça nobremente
Cantar só como canta a lira,
Como esta voz, ó misterioso,
Gato seráfico e esquisito
Em que tudo é, como num rito,
Tanto sutil quanto harmonioso!

II
Destas lãs louras e morenas
Sai um olor doce de pelos,
Que me perfumei só por tê-los
Afagados uma vez apenas.
É como os manes da morada;
Preside no seu magistério
Todas as coisas deste império:
Seria talvez Deus ou fada?
Quando o olhar para este gato a esmo,
Como por um ímã atraído,
Se dirige, e tão sucumbido,
E que eu olho para mim mesmo,
Eu vejo com olhar demente
A luz destas pupilas ralas,
Claras fanais, vivas opalas,
Que me contemplam fixamente.


Charles Baudelaire
tradução de Jamil Almansur Haddad

domingo, fevereiro 04, 2007


Perfume
a Jean-Baptiste Grenouille



Ao olfato cabe o específico
detectar do aroma exato.
Na memória, um objeto explícito
ganha cor, gosto, som e tato.

Se na mente o odor não está contido
é natural que gere uma química fascinante
e o organismo vibre em busca do sentido
que, fluido, foge à razão volatizante.

Mais do que esse poema, o perfumista diz:
"Do profundo abismo ao inacessível penhasco,
colhi o que está bem embaixo do seu nariz:
a natureza, corpo e alma, neste frasco."


marcos prado & thadeu
do livro "eu, aliás, nós"
1994