terça-feira, janeiro 30, 2007






BLUE MOON
Richard Rodgers / Lorenz Hart



Blue moon,
you saw me standing alone
without a dream in my heart
without a love on my own.

Blue moon,
you knew just what I was there for
you heard me saying a prayer for
somebody I realy could care for.

And then there suddenly appeared before me,
the only one my arms will ever hold
I heard somebody whisper, "Please adore me."
and when I looked,
the moon had turned to gold.

Blue moon,
now I'm lo longer alone
without a dream in my heart
without a love of my own.



p.s.: eu gosto com a Billie Holiday cantando. há quem prefira Rod Stewart & Eric Clapton ou ainda Ella Fitzgerald ou Bob Dylan. lua azul mesmo só em junho, em capricórnio. achei que era hoje, mas não faz mal. fica sendo. esse post de hoje, e o último, lá em baixo, marcam uma segunda lua, uma fase feérica, um entre que só eu sei.

domingo, janeiro 28, 2007


Soneto


Eu preciso de música que flua
nas pontas finas, frágeis dos meus dedos,
nos meus lábios amargos de segredos,
com melodia líquida e nua.

Ah, a antiga ginga sã e crua
de uma canção que aos mortos dê guarida,
água que me cai sobre a testa erguida,
o corpo febril, um brilho de Lua!

A melodia pode enfeitiçar:
magia calma, respiração pura,
um coração que afunda no abandono
da mansa, escura imensidão do mar

e flutua pra sempre na verdura,
amparado no ritmo e no sono.


Elizabeth Bishop
tradução de Jorge Pontual

terça-feira, janeiro 23, 2007

Embriague-se





É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.

E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: "É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser".


Baudelaire
tradução de Jorge Pontual

terça-feira, janeiro 16, 2007




O Perfume



Leitor, terás um dia respirado
Com embriaguez, lento degustar,
O grão de incenso que domina o altar
Ou de um sachê o almíscar apurado?

Com magia, profundo delirar,
Do presente que revive o passado,
Assim o amante no corpo adorado
Colhe na memória uma flor sem par.

Da solta e densa cabeleira dela,
Incenso da alcova, vivo sachê,
Vinha um aroma, felino buquê,

E as roupas de veludo ou de flanela,
Impregnadas do seu frescor tão bom,
Soltavam um perfume de vison.


Charles Baudelaire
Tradução de
Jorge Pontual

________________________________


Le parfum


Lecteur, as-tu quelquefois respiré
Avec ivresse et lente gourmandise
Ce grain d'encens qui remplit une église,
Ou d'un sachet le musc invétéré ?

Charme profond, magique, dont nous grise
Dans le présent le passé restauré !
Ainsi l'amant sur un corps adoré
Du souvenir cueille la fleur exquise.

De ses cheveux élastiques et lourds,
Vivant sachet, encensoir de l'alcôve,
Une senteur montait, sauvage et fauve,

Et des habits, mousseline ou velours,
Tout imprégnés de sa jeunesse pure,
Se dégageait un parfum de fourrure.


Baudelaire
Les Fleurs du Mal

sábado, janeiro 13, 2007

EDITADA À REVELIA





O mimo dos mimos chegou pelo correio, ainda em 2006. Por sorte, pra começar o ano bem, só coloquei as mãos nele nos primeiros dias de janeiro - Edições Quem mandou? - sacada genial do poeta carioca, residente em São Paulo, Sérgio Alcides.

Conheci Sérgio quando éramos professores na Universidade Federal de Ouro Preto em 97, ele ministrando História e eu Lingüística. Nunca mais nos vimos, até o encontro por arte do acaso ano passado na rodoviária de São Paulo - eu amarrava o tênis tomada de malas e breguetes quando dou de cara com o amigo.

O acaso faz sentido, todo o sentido.

Sérgio capturou de um poema meu o título (BIBLIOTECA TODINHA), editou e costurou o pitéu na sua oficina infoartesanal da Rua Bocaina. Agora sou uma escritora, já tenho livro. E pra fazer jus a minha alma punk, editada à revelia.

Grata Sérgio, pelo afeto e reconhecimento. E por bolar uma pegada que faz falta nos dias tão desromantizados e secos da tal da era de Aquário. O gesto é todinho lírico e D.Poesia vence, mais uma vez.



Monica
p.s.: não consegui escanear e manter as cores, uma pena.

terça-feira, janeiro 09, 2007


: DESEJO



Só o teu coração quente
e nada mais.

Meu paraíso um campo
sem rouxinol nem liras,
com um rio discreto
e uma fontezinha.

Sem a espora do vento
por sobre a copa,
nem a estrela que quer
ser folha.

Uma enorme luz
que fosse
vagalume
de outra,
em um campo de
olhares partidos.

Um repouso claro
e ali nossos beijos,
lunares sonoros
do eco,
se abririam mui longe.

E teu coração quente,
nada mais.



Federico Garcia Lorca
(1920)

quinta-feira, janeiro 04, 2007

VIRGINIANAS



Adoro escrever cartas que não vou mandar, poemas que não vou publicar, artigos que não vou levar adiante por amor à liberdade. A liberdade única que nos faz decidir o que é mas não deve estar. A opção pelo erro. Se algum dia, entretanto...e isso se chama poder. Posso usar outdoors. Já que palavras não são passarinhos, nenhuma culpa. Pedras preciosas adoram cofres, o escuro do mundo. Lá brilham em paz e angústia para seu só e avarento dono que imagina, esfregando as mãozinhas, o que poderia fazer com elas.

Um dia porém, acumuladas, começam a sair pelas frestas. Não são passarinhos mas feitas de água e podem arrebentar depois de tanta moleza em pedra intrépida. Furar a pedra. Invadir os ossos. Derramarem-se todas e aí não se é mais nada. Perderem-se por excesso. E a arrebentação impõe seu traço. Impossível voltar - a não ser ir e voltar. Escravo da liberdade. Onda para sempre.

E levam tudo o que vem pela frente - impurezas, intimidades de nitroglicerina pura, saltos de sapatos velhos, garrafas com o mapa do tesouro. E tudo começa a ir como quer, sem controle. Todo mundo vai ver o topázio imperial. Mas vai ver a merda também, merda que pra alguns é rubi. Os mesmos rubis que se julgavam preciosos mas eram coágulos de sangue. Então, não tem jeito.

O tiro vai mesmo sair pela culatra, o feitiço irá voltar-se contra o feiticeiro. E o que não tem soluctio e nem soluços, solucionado está.


Sol e Chuva, 4.1.07