terça-feira, junho 28, 2005

THE REAL PANTHER


Raquel


Um ano de Palavra. De Pantera. A palavra tá na boa, mas e a Pantera? Sempre gostei do bicho, lembranças de infância. Depois foi Cat People, o filme. David Bowie. A tragédia de Minas na primeira página. O texto da Colasanti. Toda mulher tem uma pantera, rugindo escondida - outras, nem tanto. Aí me perguntaram: - É seu animal de poder? Sei lá. Gosto do bicho e acredito que isso não determine minha condição xamânica. Talvez meu animal seja só um gatinho. Talvez um pássaro, como aventou Tuga Martins. Penso que é uma raposa vermelha e depois mudo de idéia. Tenho um "zoelógico" interno. Não sei se o que determina o "animal de poder" é a identificação primeira. Tenho achado que não. O medo pode ser determinante. E eu não tenho medo de panteras, nem de tigres, nem de nada que mie.

Palavra de Pantera é um blog que fala de Sedução. Tudo que é sedução não é amor. Amor não tem nada a ver com isso razão de cismas e sismas. Delatar as estratégias fatais. Saber reconhecê-las para descartá-las e ficar com que me interessa. Prefiro deixar aqui, bem claras, as pegadas - A Marca da Pantera. Depois que escrevo, saio voando.

Pantera mesmo é minha amiga Raquel que não gosta de felinos. Duplamente compreensível: e o Batman lá gostava de morcegos? Um dia, quem sabe, Raquel dê de cara com sua pantera. Tá na cara. No corpo. Nos gestos da minha melhor amiga. Até o Ivanzinho, filho dileto da Palavra, reconhece.

Hoje é aniversário da Raquel. Juro que não pensei nisso quando abri o blog dia 28 de junho apesar de ter reconhecido sua panterice meses antes, quando traduzíamos do italiano para o português um artigo de Matteo Meschiari, A Arqueologia das trevas - arquétipo do felino na pré-história. O gato Edgar Allan Poe insistia em pular no colo da fera e atrapalhar os diversos rascunhos. E olhe que o bicho é arisco.

Então, feliz aniversário para o Palavra de Pantera. E um super feliz aniversário para minha linda amiga.

Beijos de coração, Quelitcha.
Um arcano XI de presente pra você.


Zoe

quinta-feira, junho 23, 2005

ANIVERSÁRIO DA PALAVRA



Mulher Gato, Cruz e Souza, The Concretes, Bowie & Cat People, balacobaco, Borges, onirismos, Plath, Silvia Silvia, o surtado Ivan Santa Ana, Utopia com pilhas, de Oliveira Marly, Sla Radical Dance Disco Club, o argênteo Montesino, Chamizinho Mário El-califa, Maiakovski garotão, Galatéa, mênades roucas, febre elevada, estratégias fatais de sedução, Lispector com todo respeito, Lucky Strikes (sempre), avós de jaguares demoníacos, Marcos Prado I, Marcos Prado II, Marcos Prado III, a bela Greta Benitez, o cavaleiro das trevas, Rilke, Flor Espanca, Leminskis, Gilka Machado, meus deus Murilo Mendes, Kafka (ou Max Brod), lágrimas, rima Rimbaud, Pinduca, Puga, Eliot, Santa Hilda Hilst, Nicholas Cage (...), Vicky Dolabella, Verlaine e Maria Teca, Blake Blake Blake, Salomé, mil Salomés, a boca de João Batista, Apollinaire, i love Julio Cortazar, Klimt, Glenda Jackson, Alla Nazimova, Sereias & Mermaids, quando crescer quero ser a Julie Newmar, o poema Octavio Paz, Milagros Cerron, Monroe com cauda de peixe, café com pele e creme, Molly Bloom, An Piérle, Breton El Mago, Flor Azul e João Acuio, mon amour, na cabeça no sexo no coração – é o ANIVERSÁRIO DA PANTERA !

Dia 28 de junho de 2004 me dei de presente este blog. Grata a todos vcs pela leitura, comentários, críticas e apreciações. Tá valendo.

Zoe

terça-feira, junho 07, 2005


Man Ray / Les Amoureux

A UNIÃO LIVRE
André Breton

Minha mulher com a cabeleira de fogo de madeira
Com pensamentos de relâmpagos de calor
Com o talhe de ampulheta
Minha mulher com o talhe de lontra entre os dentes do tigre
Minha mulher com a boca de roseta e de buquê de estrelas de última grandeza
Com dentes de rastro de camundongo branco sobre a terra branca
Com a língua de âmbar e de vidro lixados
Minha mulher com a língua de hóstia apunhalada
Com língua de boneca que abre e fecha os olhos
Com a língua de pedra incrível
Minha mulher com cílios de lápis de escrita de criança
Com sobrancelhas de borda de ninho de andorinha
Minha mulher com têmporas de ardósia de teto de estufa
E com vapor nas vidraças
Minha mulher com ombros de champanhe
E de fonte com cabeças de delfins sob o gelo
Minha mulher com punhos de fósforos
Minha mulher com dedos de acaso e de às de copas
Com dedos de feno ceifado
Minha mulher com axilas de marta e de faia
Da noite de São João
De ligustro de ninho de acarás
Com braços de espuma de mar e de eclusa
E de mistura de trigo e de moinho
Minha mulher com pernas de foguete
Com movimentos de relojoaria e de desespero
Minha mulher com panturrilhas de fibra de sabugueiro
Minha mulher com pés de iniciais
Com pés de chaveiros com pés de pardais que bebem
Minha mulher com pescoço de cevada perolada
Minha mulher com a garganta de Vale d’ouro
De encontros no leito mesmo da torrente
Com seios de noite
Com seios de toupeira marinha
Minha mulher com seios de cadinho de rubi
Com seios de espectro de rosa sobre o orvalho
Minha mulher com o ventre de desdobra de leque dos dias
Com ventre de garra gigante
Minha mulher com dorso de ave que foge vertical
O dorso de mercúrio
O dorso de luz
A nuca de pedra rolada e de giz molhado
E de queda de um copo do qual se acaba de beber
Minha mulher com ancas de barquilha
Com ancas de candelabro e de penas de flechas
E de hastes de pluma de pavão branco
De balanço insensível
Minha mulher com nalgas de arenito e de amianto
Minha mulher com nalgas de dorso de cisne
Minha mulher com nalgas de primavera
Com sexo de gladíolo
Minha mulher com sexo de mina aurífera e de ornitorrinco
Minha mulher com sexo d’algas e de bombons antigos
Minha mulher com sexo de espelho
Minha mulher com olhos cheios de lágrimas
Com olhos de panóplia violeta e de agulha imantada
Minha mulher com olhos de savana
Minha mulher com olhos d’água para beber na prisão
Minha mulher com olhos de madeira sempre sob o machado
Com olhos de nível d’água de nível do ar da terra e de fogo


p.s.: a tradução apresentada é o resultado parcial (e portanto, sujeito a modificações) de um esforço conjunto - colaboraram a professora Suzel (CELIN-UFPR), Barbara Skolimowska, Raquel Frotta e Ivan Justen Santana.