quinta-feira, março 26, 2015

A PANTERA




Atrás das fortes grades a pantera
Repetirá o enfadonho itinerário,
Que é (mas não sabe) seu fadário
De negra jóia, aziaga e prisioneira

Vão e vem aos milhares, em desfiles
Infindáveis, mas é só uma e eterna
A pantera fatal em sua caverna
Traça a reta que um eterno Aquiles

Traça no sonho que sonhou o grego.
Não sabe que há prados e montanhas
De cervos cujos trêmulas entranhas

Deleitariam seu apetite cego.
Em vão é vário o orbe. A jornada
Que cumpre cada qual já foi fixada.


Jorge Luís Borges
(O ouro dos tigres, 1972)
Tradução de Josely Vianna Baptista