quinta-feira, novembro 30, 2006

ASTRÁLIA

Acabei de montar com Araiê o "Astrália", um blog em comemoração aos 45 anos do poeta Marcos Prado. Marcos faleceu aos 34 anos no dia 31 de dezembro de 1996. E nasceu no dia 15 de dezembro de 1961. Araiê é nossa filha. Para quem não sabe, meu nome é Monica Berger (Zoe é um nom de plume).

A comemoração é uma iniciativa da Fundação Cultural com participação da Biblioteca Pública do Paraná. Centos eventos: leituras de poemas em bares, mesas-redondas, shows e as tais performances. Depois eu coloco direitinho aqui e
.

Quando namorávamos ele havia acabado de mimeografar seu primeiro livro De leve não vale a pena apesar. Essa frase vinha de Astrália, onde o livro foi escrito e confeccionado. Brincavámos que era lá que a gente ia morar um dia, nosso paraíso particular.

Quem sabe? Ele foi antes pra dar uma geral.



Monica

domingo, novembro 26, 2006

MANTRA

TOTEM
DROGMA
TEM


DROPS
MAGNA
ZEN


TAPA
GAMA
LÓGICA



MIM
CHAMAN
MERLIN


PUFT
GLUPT
TRÓTICA



PARLA
PIRLIM
PIMPIM




Marcos Prado e Edilson del Grossi

Invisível





é verdade que sonhei? não.
e sei que você também não sonhou

a nuvem de tempestade
inacreditável, a realidade.

adianta agora, escrever com sumo de limão?





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quarta-feira, novembro 22, 2006




antes de acontecer
tudo pode ser diferente
depois de acontecer
tem um depois de




trecho de uma letra de Marcos Prado e Thadeu W.

A ERA



Minha era, minha fera, quem ousa,
Olhando nos teus olhos, com sangue,
Colar a coluna de tuas vértebras?
Com cimento de sangue – dois séculos –
Que jorra da garganta das coisas?
Treme o parasita, espinha langue,
Filipenso ao umbral das horas novas.


Todo ser enquanto a vida avança
Deve suportar esta cadeia
Oculta de vértebras. Em tôrno
Jubila uma onda. E a vida como
Frágil cartilagem infantil
Parte seu ápex: morte da ovelha,
A idade da terra em sua infância.


Junta as partes nodosas dos dias:
Soa a flauta, e o mundo está liberto,
Soa a flauta e o mundo se recria.
Angústia! A onda do tempo oscila
Batida pelo vento do século.
E a víbora na relva respira
O ouro da idade, áurea medida


Vergôntea de nova primavera!
Mas a espinha partiu-se da fera,
Bela era lastimável. Era,
Ex-pantera flexível, que volve
Para trás, riso absurdo, e descobre
Dura e dócil, na meada dos rastros,
As pegadas de seus próprios passos.



Ossip Mandelschtam

domingo, novembro 19, 2006




estava no mafalda quando uma menininha bem linda entrou e ofereceu uns adesivos. olhei, tinha da betty boop e da sininho. dois reais. a cleu ganhou uma rosa de papel e eu também. a garota fez as flores com perícia, eu mesma gosto de brincar. não olhou para mim nem por um segundo. o mundo estava em primeiro plano. eu era uma amiguinha invisível.
em casa lembrei - ele há de se lembrar - de uma outra menina pequena, muito pequenininha ainda, que chegou perto da gente um dia.

ela estava bem suja e tinha os cabelos raspados. piolhos. a camisola era digna da garota dos fósforos ou de uma retirante mirim de um hospital psiquiátrico.

bem diferente da outra que entrou bonita, impassível, criança lá no mafalda a essa hora da noite. grampos de brilhinhos assim como brilhavam a betty boop e a sininho.

ensinei como fazer para que um canudinho de refrigirafas virasse uma espécie de torcido que talvez imitesse a vez de um caule ou de um tecido. aquela pobrinha, de antes, que não tinha fósforos mas sim canudinhos.

ela não aprendeu. e nem nós que insistíamos no mesmo bar no meio da tarde como se no mundo nada houvesse a fazer. tardes densas como quaisquer outras tardes.

ela reapareceu e aprendeu o torcido. fizemos vários, como um segundo treino. vimos a menina só mais uma vez - se não me engano - dentro de um carrinho de coisas recicláveis, perto do mercadorama.

Zoe

sexta-feira, novembro 17, 2006

nenhum homem é uma ilha


takeshi kaneshiro


poema pra quê?

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segunda-feira, novembro 13, 2006

Psiu


o que então me era mais caro
é só leda sinapse, bioquímica,
abandono já na garganta
todo engodo de veia lírica

memória sem voz e sem rosto
mania que atropela a trilha
aquele beijo no pescoço
paranóia ou adrenalina?

estava tudo impresso no verso
máquina-de-lavar cerebral
era uma enzima pé-ante-périplo
rondando a célula infinitesimal

um arroubo, uma bomba de hidras,
um carro à gás, um oásis sem ilhas,
um lero-lero de enzimas
quilhas & milhas do centro do coração.


Monica Berger
(do dia de hoje que já vai longe)




Dois amores - de paz e desespero -
Eu tenho que me inspiram noite e dia:
Meu anjo bom é um homem puro e vero;
O mau, uma mulher de tez sombria.

Para levar a tentação a cabo,
O feminino atrai meu anjo e vive
A querer transformá-lo num diabo,
Tentando-lhe a pureza com a lascívia.

Se há de meu anjo corromper-se em demo
Suspeito apenas, sem que dizer que seja;
Mas sendo ambos tão meus, e amigos, temo
Que o anjo no fogo já do outro esteja.

Nunca sabê-lo, embora desconfie,
Até que o meu anjo contagie.


Soneto 144
William Shakespeare


deve haver algo de bom em mim
ou não teria tanta má idéia
o meu demônio tem pacto com o querubim
é uma ovelha o líder da alcatéia

fui o juiz do jogo yin versus yang
apitei faltas pras melhores frases
atirei na tela do meu big-bang
vi estrelas e quase quasares

se há algo de bom em mim, seja dita
a maldade que fez minha alma ambígua


Marcos Prado