terça-feira, junho 30, 2009

O ADEUS DA PANTERA




de Mário Bortolotto


Michael Jackson morreu. Tá certo. Ele era realmente um gênio. Talentoso pra caralho e o escambau. Mas na verdade nunca me interessou. Fora uma música ou outra do Jackson Five e do começo da carreira solo, nada do que ele fez me chamava a atenção. Acho o disco "Thriller" chato pra caralho, como aliás acho aquela época toda muito chata. Mas em nenhum momento estou aqui questionando a qualidade do cara. Ele era realmente bom pra caralho. Assim como acho Guimarães Rosa um gênio, só que eu não tenho saco pra ler Guimarães Rosa. Eu não tenho que ler tudo que é bom. Já disse por aqui, e fui muito criticado por isso, que tenho referenciais definidos e interesses definitivos. Posso ser fã de muita coisa do Sylvester Stalone, por exemplo, mas não suporto Pasolini. E com isso estou querendo dizer que Stalone é melhor que Pasolini? De maneira nenhuma. Só estou dizendo que prefiro assistir "Rambo 1" por exemplo, a ver qualquer coisa do Pasolini, só isso. Em resumo, me interessa muito mais ver o soldado John Rambo fazendo o xerife Will Teasle mijar nas calças a ver um bando de jovens comendo merda na suposta crítica ao fascismo de Saló. Então quero deixar claro que acho o Michael fodaço, mas que ele nunca me interessou. Só tenho em casa um compacto do começo de carreira e um MP3 do Jackson Five. E tá bom pra caramba.

Mas a Farrah Fawcett morreu. E essa sim foi muito importante pra mim. Eu tinha um poster na parede do meu quarto, que aliás eu dividia com meu irmão e depois com minha irmã. O quarto, não o poster. Esse era só meu, caramba. Mas o poster ficou lá na parede durante muito tempo. Assistia "As Panteras" só pra ver aquela loura magnífica em ação. Depois descobri que ela era esposa do Lee Majors (O Homem de 6 milhões de dólares) e confesso que tinha um certo cíume dele. Raciocinava assim: Como é que eu posso competir com um cara de 6 milhões de dólares? Logo eu, que não tenho sequer uma grana pra comprar uma tubaína? Aí eu ia junto com os outros coroinhas lavar o salão paroquial e então o padre dava uma grana e a gente ia até o boteco do seu Manoel e comprava tuba-cola e coxinha (sempre as famigeradas coxinhas). E eu nunca conseguia guardar nenhum dinheiro. Sendo assim, jamais poderia me equiparar ao sujeito que valia 6 milhões de dólares. Então ontem quando fiquei sabendo que Farrah Fawcett tinha morrido, foi como se um pedaço de minha infância tivesse morrido também. Uma infância singela e mais ou menos sacana, de um tempo que era possível imaginar que Farrah Fawcett estava na esquina da rua de nossa casa. O Marcelo Montenegro me disse ontem que a sua pantera preferida era a Kate Jackson. Eu sou mais óbvio que o Marcelo. Eu queria a Farrah Fawcett que pra mim só conseguiu ser substituída pela Adele Fátima de "Histórias que as nossas babás não contavam". Sem essa de Cheryl Ladd. Isso sim que é trocar a loira pela mulata. Mas eu nunca esqueci Farrah Fawcett. Nem quando gamei na Sandrinha, minha primeira paixão. Eu não conseguia tirar a Farrah da parede do meu quarto. Achava que a Sandrinha tinha obrigação de entender. E dessa vez, ela finalmente vai cair lentamente de lá, daquela parede de tábuas velhas pintadas de azul. Minha irmã finalmente vai se ver livre da visão daquela loura espetacular. Acho que hoje Fausto Fawcett (porque você acha que esse é o nome dele?) e eu estamos muito tristes. E ninguém vai nos tirar a razão. Tô até ouvindo o tema do seriado na minha cabeça nesse momento e aquele malaco do Charlie falando alguma merda. Boa noite, Farrah. Você nunca foi menos que impressionante.

quarta-feira, junho 03, 2009




O POETAÇO E O POETENTO


O poetaço e o poetento
trombaram (que susto!) um com o outro –
o verbo veio violento
à boca do que era o mais douto:

“Eu faço, eu verso, eu aconteço
e esse universo vai ver só:
reconheces não haver preço
em meu cantar de tom tão só?”

O mais humilde, nojentinho,
viu fim no meio do caminho
e disse ao vizinho, mesquinho:
“Não, não beberei deste vinho

passado que você fermenta.”
– enquanto a tardinha, agourenta,
morria sem um som plangente,
antipaticissimamente.


Ivan Justen Santana