quinta-feira, janeiro 04, 2007

VIRGINIANAS



Adoro escrever cartas que não vou mandar, poemas que não vou publicar, artigos que não vou levar adiante por amor à liberdade. A liberdade única que nos faz decidir o que é mas não deve estar. A opção pelo erro. Se algum dia, entretanto...e isso se chama poder. Posso usar outdoors. Já que palavras não são passarinhos, nenhuma culpa. Pedras preciosas adoram cofres, o escuro do mundo. Lá brilham em paz e angústia para seu só e avarento dono que imagina, esfregando as mãozinhas, o que poderia fazer com elas.

Um dia porém, acumuladas, começam a sair pelas frestas. Não são passarinhos mas feitas de água e podem arrebentar depois de tanta moleza em pedra intrépida. Furar a pedra. Invadir os ossos. Derramarem-se todas e aí não se é mais nada. Perderem-se por excesso. E a arrebentação impõe seu traço. Impossível voltar - a não ser ir e voltar. Escravo da liberdade. Onda para sempre.

E levam tudo o que vem pela frente - impurezas, intimidades de nitroglicerina pura, saltos de sapatos velhos, garrafas com o mapa do tesouro. E tudo começa a ir como quer, sem controle. Todo mundo vai ver o topázio imperial. Mas vai ver a merda também, merda que pra alguns é rubi. Os mesmos rubis que se julgavam preciosos mas eram coágulos de sangue. Então, não tem jeito.

O tiro vai mesmo sair pela culatra, o feitiço irá voltar-se contra o feiticeiro. E o que não tem soluctio e nem soluços, solucionado está.


Sol e Chuva, 4.1.07

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