Imagem de Raquel Frota (1,50 X 1,20 misturado em media na tela) |
a gralha negra em tempo de chuva
Lá
no alto, num ramo firme
arqueia-se
uma gralha negra toda molhada
arranjando
e voltando a arranjar as penas à chuva.
Não
espero qualquer milagre
nem
nada
que
venha lançar fogo à paisagem
no
interior dos meus olhos, nem procuro
mais
no tempo inconstante qualquer desígnio,
mas
deixo as folhas manchadas cair conforme caem,
sem
cerimónia ou maravilha.
Embora
- admito-o - deseje
ocasionalmente
alguma resposta
do
céu mudo, não posso honestamente queixar-me:
uma
certa luz pode ainda
surgir
incandescente
da
mesa da cozinha ou da cadeira
como
se um fogo celestial tornasse
seu,
de um instante para outro, os mais estranhos objectos,
assim
consagrando um intervalo
de
outro modo inconsequente
por
nos dar grandeza e glória,
ou
até amor. De qualquer modo, caminho agora
atenta
(pois isso poderia acontecer
mesmo
nesta paisagem triste e arruinada); descrente,
mas
astuta, ignorante
de
que um anjo se decida a resplandecer
repentinamente
a meu lado. Apenas sei que uma gralha
ordenando
as suas penas negras pode brilhar
de
tal maneira que prenda a minha atenção, erga
as
minhas pálpebras, e conceda
um
breve repouso com medo
de
uma neutralidade total. Com sorte,
viajando
teimosamente por esta estação
de
fadiga, acabarei
por
juntar um conjunto
de
coisas. Os milagres acontecem
se
gostares de invocar aqueles espasmódicos
gestos
de luminosos milagres. A espera recomeçou de
[novo,
a
longa espera pelo anjo,
por
essa rara, fortuita visita.
sylvia
plath
pela
água
tradução
de maria de lurdes guimarães
assírio
& alvim
1990
Gralha Negra em Clima Chuvoso
No ramo rijo lá em cima
Curva-se uma negra gralha molhada
Arranjando e rearranjando suas penas na chuva.
Eu não espero que um milagre
Ou um acidente
Incendeiem a vista
No meu olho, nem busco ver no
Clima desultório intencionalidade alguma,
Deixando folhas manchadas caírem como caem,
Sem cerimônia, nem portento.
Embora eu admita
Desejar, ocasionalmente, algum retruque
Da parte do céu mudo, não posso reclamar: uma
Certa luz menor ainda é capaz de
Saltar incandescente
Da mesa ou da cadeira da cozinha
Como se um ardor celestial pudesse
Possuir os objetos mais obtusos vez por outra –
Destarte santificando um intervalo
De outras feitas inconseqüente
Ao outorgar largueza, honra, dir-se-ia
Mesmo amor. Agora, de qualquer jeito,
Ando suspicaz (poderia acontecer até numa
Paisagem baça, ruinosa como esta); desconfiada,
Mas engajada; ignorante
De algum anjo que resolva refulgir
Subitamente ao meu cotovelo. Só sei que
Uma gralha ajeitando as penas negras fulgura
Tanto que me prende os sentidos, arrasta
Minhas pálpebras, e fomenta
Um breve alívio da temida
Neutralidade total. Com sorte,
Trilhando teimosa através dessa estação dura
De fadiga, vou remendar
Todo junto o monte
De conteúdos. Milagres se realizam,
Se você se importa em chamar assim tais truques
Espasmódicos de radiância. A espera se reinaugura,
A longa espera pelo anjo.
Por aquele raro, randômico descenso.
No ramo rijo lá em cima
Curva-se uma negra gralha molhada
Arranjando e rearranjando suas penas na chuva.
Eu não espero que um milagre
Ou um acidente
Incendeiem a vista
No meu olho, nem busco ver no
Clima desultório intencionalidade alguma,
Deixando folhas manchadas caírem como caem,
Sem cerimônia, nem portento.
Embora eu admita
Desejar, ocasionalmente, algum retruque
Da parte do céu mudo, não posso reclamar: uma
Certa luz menor ainda é capaz de
Saltar incandescente
Da mesa ou da cadeira da cozinha
Como se um ardor celestial pudesse
Possuir os objetos mais obtusos vez por outra –
Destarte santificando um intervalo
De outras feitas inconseqüente
Ao outorgar largueza, honra, dir-se-ia
Mesmo amor. Agora, de qualquer jeito,
Ando suspicaz (poderia acontecer até numa
Paisagem baça, ruinosa como esta); desconfiada,
Mas engajada; ignorante
De algum anjo que resolva refulgir
Subitamente ao meu cotovelo. Só sei que
Uma gralha ajeitando as penas negras fulgura
Tanto que me prende os sentidos, arrasta
Minhas pálpebras, e fomenta
Um breve alívio da temida
Neutralidade total. Com sorte,
Trilhando teimosa através dessa estação dura
De fadiga, vou remendar
Todo junto o monte
De conteúdos. Milagres se realizam,
Se você se importa em chamar assim tais truques
Espasmódicos de radiância. A espera se reinaugura,
A longa espera pelo anjo.
Por aquele raro, randômico descenso.
Sylvia Plath
Versão brasileira: Ivan Justen Santana
Versão brasileira: Ivan Justen Santana