segunda-feira, julho 12, 2004

toque de recolher


a América de Baudrillard

se perde no centro de Mariana

a mesa branca imita a lua cheia

pedais fosforecem à beira do olhar astigmático

carros escorrem no sinal vermelho



conhecido, um acorde antigo

ensurdece os ruídos

o mundo é um pano de fundo

e através dele transito você



eu, e na ponte pensamento de seus passos

leio as rodas, os apetrechos de viagem, suas notas

o dedo no interruptor do poema



o meu corpo em emergência

despedaça-se em mil estrelas-letras

e, ora névoa obnubilando a noite

ora luz alta no retrovisor

visita o seu caminho



entre imensos desertos e estradas absurdas



a presença absoluta

desloca o coração da cidade



aqui passeia o invisível

fecho o livro, abro os olhos

e vou embora



Zoe de Camaris
Mariana, 1999

5 comentários:

Zoe de Camaris disse...

Há tempos, conversei com um amigo poeta sobre um livro de poemas com nota de rodapé. Esbarra-se, logo de cara, com a máxima - poema não se explica. E não se explica mesmo, mas contar a história pode criar um mini conto, uma crônica, um sei lá o quê. Esse poema aí, por exemplo, "Toque de recolher" rolou num ponto de ônibus em Mariana-MG. Eu havia acabado de dar uma aula na UFOP. Havia chovido. Estava quente. Minha cabeça rodava por causa da leitura de "América", de Jean Baudrillard. Do lado do ponto de ônibus tinha um trailler. No trailler, latinhas de cerveja. Sentei em uma mesa de plástico, branca e redonda como a lua. Lua cheia no céu. O ônibus só chegaria depois de meia hora, perfeito.
Entrei em uma espécie de transe - estava ali e não estava. As rodas, as luzes, os carros, o semáforo, as pessoas falando aconteciam num outro plano. E olhe que eu ainda não tinha bebido. Não gosto dos meus poemas. Mas gosto de "Toque de recolher". Palavra de Pantera.

Zoe

Ivan disse...
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Zoe de Camaris disse...

Pois esse tal de Ivan,o Terrível, conseguiu achar um erro de ortografia no poema. ORTOGRAFIA !!! Pá pum : deletei o post e corrigi o erro. Mais uma vez, grata, Ivanzinho, o Querido.

Ivan disse...

Ah: o que fazer se eu não consigo
me controlar diante da menor pulga nos versos?

*inclina a cabeça*

- Perdoe-me, poeta felina: eu só quis
preservar imaculada sua aparvalhante pelugem...

Zoe de Camaris disse...

pois eu sei, meu querido, e agradeço.
agora ninguém mais sabe a letra que somei ...:)

besos