sábado, setembro 18, 2004

Poema XIV, "Do Amor"


Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora

Há tanto tempo sua própria tessitura.

Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.


Hilda Hilst

3 comentários:

Ivan disse...

bah: eu amo a hilda hilst...

e adoro o descompromisso:

esse foi um belo tiro,

Madame de Camaris,

mesmo que a palavra "pantera"

não apareça explícita no texto.

Já o soneto mais vituperado

do AA (Augusto dos Anjos)

eu achei que foi uma tremenda bola fora.

Desculpe, mas não tem conserto mesmo

a minha singularíssima pessoa.


Piscadelas e fosquinhas pra ti.

Zoe de Camaris disse...

Querido Ivanzinho,


Se eu só postar poemas que citem a pantera, fico um tanto restrita, não acha? E depois, esse blog é um termômetro do meu estado de espírito - que nem sempre caminha feroz ou com patas de veludo.
E quanto ao Augusto dos Anjos, a sua singularíssima pessoa pessoa poderia me dizer por quem mais o soneto é vituperado? Hum? Aliás, aproveite e me diga por quem dobram os sinos.

besito Ivan,
vou ver vc no palco hoje às 19h no Perhapiness.
Zoe

Ivan disse...

muito bem: este famigerado soneto foi imprecado por carlos vereza no capítulo final de uma novela das oito, numa cena em que ele se joga de uma ponte e consegue mandar o soneto inteiro antes de morrer, finalmente. mas o meu trauma mesmo é que graças ao "o beijo, amigo, é a véspera do escarro" e ao "escarra nessa boca que te beija" (versos realmente íntimos) o poema se popularizou demais da conta... em verdade, em verdade vos digo: no fundo eu amo esses versinhos e tenho ciúme mortal deles... mas também tenho muito ciúme da pantera, e não gosto que ela seja uma ingratidão: o que salva é que ela é também uma companheira inseparável... *piscadela furtiva*