sábado, outubro 30, 2004


Salome / Pierre Bonnaud


Salomé

Mário de Sá Carneiro


Insônia roxa. A luz a virgular-se em medo,
luz morta de luar, mais alma do que lua...
Ela dança, ala range. A carne, álcool de lua,
alastra-se pra mim num espasmo de segredo...

Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio...Alabastro!...A minha alma parou...
E o seu corpo resvala a projetar estátuas...

Ela chama-me em íris. Nimba-se a perder-me,
golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:

mordoura-se a chorar – há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto e vou arder-me
na boca imperial que humanizou um santo...

2 comentários:

Ivan disse...

zoey, zoey... que coisa mai linda do mundo... eu sempre gostei mais do narcisístico sá carneiro do que do orfeônico pessoa... mário é des-lum-bran-te, um luxo.

e a imagem, outro espetáculo cabulosíssimo, me deu um ataque de poeta (ou seja: quase viadagem)...

ah, a propósito: parabéns pela data.

Zoe de Camaris disse...

Também sou encantada com o Mário de Sá Carneiro, Ivan, desde os tempos da Faculdade. Lindo poema, não? E olha o outro que consegui, com pantera e tudo ...

beso
(cadê vc? me liga, quero te perguntar uma coisa)
Zoe