quinta-feira, junho 29, 2006



A poesia



Essa angústia de fazer o melhor,
Essa saudade daquilo que não tive,
Um bom poema sempre sabe decor,
Na ponta da língua, o som que o motive

A fazer da dor apenas um out-door,
Onde em letras garrafais sobrevive
Toda emoção feita de sangue, suor
E lágrimas, que o coração exige,

Pra se sentir vivo dentro do peito.
Mas se o poema não diz a que veio
Então não deveria nem ter nascido,

Já que a alma, espelho da beleza,
Não será, não é e nem terá sido
A expressão real da sua natureza!

segunda-feira, junho 26, 2006



Sempre adorei fazer aniversário. Acordava na hora em que nasci, feliz feliz feliz. Um dia me achando o máximo, de verdade. Presentes bem vindos, mas tanto fazia se vermelho ou azul. Era meu aniversário e ponto. Hoje foi diferente. Sonhei com meu único desejo. Deixei passar a hora certa. Não fui arrumar as madeixas, não fiz as unhas, dormi até a hora que pude, querendo agarrar o sonho pelo cabelo. Mas os cabelos do sonho são feitos de pequenos chicotes imateriais - quando existem. Incontroláveis, como todos os desejos. Tomei meu café, atendi telefonemas, abri minha caixa postal. Tenho amigos. Tudo conspira. Ganhei uma segunda-feira bonita, ao abrir a janela. Curitiba de bom humor. O gatinho amarelo está mais afável, dorme agora no meu colo como um novelo. Com o que sonha? O iogurte na geladeira acabou, o que não é bom. A casa está uma bagunça e eu vou enfrentar o shopping. Não há como escapar do Natal, do Ano Novo. Hoje, quis escapar do meu dia, mas não está dando certo. O mundo me ama, vou ter que parar de fazer birra.

Sou obrigada a ser feliz. Minha e feliz.


26.06.06

sábado, junho 17, 2006





Não te queria quebrada pelos quatro elementos.
Nem apanhada apenas pelo tacto;
ou no aroma;
ou pela carne ouvida, aos trabalhos das luas
na funda malha de água.
Ou ver-te entre os braços a operação de uma estrela.
Nem que só a falcoaria me escurecesse como um golpe,
trêmulo alimento entre roupa
alta,
nas camas.
________________Magnificência.
________________________________Levantava-te
em música, em ferida
- aterrada pela riqueza -
a negra jubilação. Levantava-te em mim como uma coroa.
Fazia tremer o mundo.
E queimavas-me a boca, pura
colher de ouro tragada
viva. Brilhava-te a língua.
Eu brilhava.
Ou que então, entrecravados num só contínuo nexo,
nascesse da carne única
uma cana de mármore.
E alguém, passando, cortasse o sopro
de uma morte trançada. Lábios anônimos, no hausto
de árdua fêmea e macho
anelados em si, criassem um órgão novo entre a ordem.
Modulassem.
E a pontadas de fogo, pulsavam os rostos, emplumavam-se.
Os animais bebiam, ficavam cheios da rapidez da água.
Os planetas fechavam-se nessa
floresta de som unânime
pedra. E éramos, nós, o fausto violento, transformador
da terra

Nome do mundo, diadema.



Herberto Helder

segunda-feira, junho 12, 2006





Conversar


Em um poema leio:
Conversar é divino.
Mas os deuses não falam:
fazem, desfazem mundos
enquanto os homens falam.
Os deuses, sem palavras,
jogam jogos terríveis.

O espírito baixa
e desata as línguas
mas não diz palavra:
diz luz. A linguagem
pelo deus acesa,
é uma profecia
de chamas e um desplume
de sílabas queimadas:
cinza sem sentido.

A palavra do homem
é filha da morte.
Falamos porque somos
mortais: as palavras
não são signos, são anos.
Ao dizer o que dizem
os nomes que dizemos
dizem tempo: nos dizem,
somos nomes do tempo.
Conversar é humano.


Octavio Paz
tradução de Antônio Moura

quinta-feira, junho 01, 2006

Sou Lexossexual Sim, e daí?



LEXO-SEXO MANIFESTO



lero-lero é tudo no lexo-sexo /

toda letra fará diferença /

lexo-sexo, só com teclas /

disléxicos serão discriminados /

lexossexuais só se comprometem com uma idéia perdida /

metalexossexuais serão bem vindos, mas entre /(entre o ouro e a prata, o cobre)

economia com garra (s) /

lexossexuais, ao alimentar-se, alargam-se nos gestos /

(um) lexossexual (bêbado) sabe que a obra prima de hoje é o lixo de amanhã /

todo bom lexossexual sabe dar sardelas /

o silêncio só será entre sílabas /

entre as letras não há silêncio /

a verdade é única, mas não necessária /

a língua é lingua, substância e abstrata /

lexossexual e lexotan não se bicam /

há controvérsias /

as papilas gustativas serão sinapses /

e a oposição, desconsiderada /

excesso de lexo-sexo causa LER
mas o contrário não se sustenta.


..................................

se você não entendeu, não é lexossexual

. (ponto)


Zoe de Camaris
psiu! a idéia é minha mas algumas figuras engraçadas ajudaram.
créditos, depois.