segunda-feira, setembro 18, 2006




FIGOS (trecho)


A maneira correcta de comer um figo, em sociedade,
É parti-lo em quatro, segurando-o pelo pé,
E abri-lo, de modo a ficar uma flor de quatro pétalas, pétalas
pesadas, resplandecentes, rosadas, húmidas e cobertas de mel.

A seguir deitas fora a pele
Que fica mesmo como um cálice de quatro sépalas
Após teres tirado a flor com os lábios.

Mas a maneira mais comum
É metê-lo na boca pela fenda e comer a polpa de uma só
vez.
Todos os frutos têm o seu segredo.



D. H. Lawrence
Os animais evangélicos / Relógio d'água


p.s.: encontrei diversas versões deste poema. uma das traduções é de Herberto Helder, as outras não indicam o tradutor. Aí vai o trecho original, em inglês.


___________________

FIGS



The proper way to eat a fig, in society,
Is to split it in four, holding it by the stump,
And open it, so that it is a glittering, rosy, moist, honied, heavy-petalled four-petalled
_________________________ flower.


Then you throw away the skin
Which is just like a four-sepalled calyx,
After you have taken off the blossom, with your lips.


But the vulgar way
Is just to put your mouth to the crack, and take out the flesh in one bite.


Every fruit has its secret.


D.H. Lawrence

12 comentários:

Clau disse...

A tradução é perfeita e o poema, muito sensual.
Assim como as frutas, D.H.Lawrence tem suas surpresas.
Bjs

Anônimo disse...

Surpreendente. Na verdade não havia lido nada do Lawrence.

Anônimo disse...

Como em tudo na vida, sempre há várias maneiras de se vivenciar a mesma experiência.

Comer um figo, por exemplo.

Com delicada, poética e sensual leveza...

Ou cedendo aos impulsos ávidos de um desejo urgente!

...

Anônimo disse...

FIGOS

A maneira correcta de comer um figo, em público,
É parti-lo em quatro, segurando-o pelo pé,
E abri-lo, feito uma flor cintilante, rosada, húmida, melada, de quatro pesadas pétalas.

Depois deita-se fora a pele
Que é tal e qual um cálice de quatro sépalas,
A que se retirou a flor em botão, com os lábios.

Mas a maneira vulgar
É mesmo levar à boca o corte, e arrancar a polpa com uma dentada.

Cada fruto tem o seu segredo.

(trad. 20 Set ’06)

Zoe de Camaris disse...

oi joão,

a tradução é sua?

gostei, me parece a melhor até agora. prefiro "em público" do que "em sociedade". gosto tbm da solução para o terceiro e quarto versos e da "dentada" final.

a do herberto helder, estranho: pedúnculo/cálice quadrissépalo.

abraços,

Anônimo disse...

Foi uma tentativa minha, sem olhar muito para a tradução publicada, só depois li e comparei com mais atenção. Não sou o João, sou o tal de José, do Porto, que pipocou sua caixa de correio faz umas semanas. Bom dia!

Anônimo disse...

Esqueci de dizer que apreciei sua apreciação, a que não estou muito habituado. Se publicar mais poemas de D.H., quem sabe me abalanço a 'tradutentarzir'. Tem um que conheço também, 'Trees in the Garden', e outro 'Elephants'. Mais não conheço, assim de memória (no disco do computador :). Desculpe a interferência algo egocêntrica. Boa tarde!

Zoe de Camaris disse...

oi josé,

gostei muito da tradução. vou xeretar mais poemas do D.H. Lawrence. e por falar nisso, conhece um poema de Robert Frost chamado "The Armful"?

The Armful

For every parcel I stoop down to seize
I lose some other off my arms and knees,
And the whole pile is slipping, bottles, buns --
Extremes too hard to comprehend at once,
Yet nothing I should care to leave behind.
With all I have to hold with hand and mind
And heart, if need be, I will do my best
To keep their building balanced at my breast.
I crouch down to prevent them as they fall;
Then sit down in the middle of them all.
I had to drop the armful in the road
And try to stack them in a better load.
...................

Fiquei curiosa em saber como o resolveria. se quiser arriscar...

abraços,

Anônimo disse...

De Braços Repletos

Por cada embrulho que me baixo para apanhar
Deixo outro de meus braços e joelhos despencar,
E a pilha inteira vai escorregando, garrafas, guloseimas
Extremos demasiado difíceis de abarcar com teimas,
No entanto eu cuidava de nada deixar para trás ausente.
Com tudo o que tenho de carregar com a mão e a mente
E o coração, se preciso for, darei meu melhor jeito
Para manter esse amontoado amparado no peito.
Agacho-me para impedir que caiam a rodos;
Depois sento-me no meio deles todos.
Tenho de espalhar a braçada na estrada
E tentar empilhá-la de forma mais cuidada.

(trad. 25 Set ’06)

Anônimo disse...

"Tive de espalhar..."

Não usei 'Braçada' em título por se aplicar, penso eu, mais a objectos homogéneos, naturais, como flores, palhas, e por aí. A tradução carece de revisão, é claro. Agradeço o 'desafio', fez-me bem tentar, apesar das pressas. Boa tarde!

Zoe de Camaris disse...

oi josé,


bacana...posso postar? tenho aqui comigo uma tradução do Ivan Santana tbm.

grata pela incursão poética,

Anônimo disse...

Se achar que tem vez, com certeza. Sobre o título, pensei que poderia ser também - não muito à letra - 'A Embrulhada', no sentido de atrapalhação, confusão (com embrulhos mesmo, neste caso). Mas pode ser que aí a palavra 'embrulho' seja menos adequada. Usei 'despencar' atendendo ao momento, a sua sugestão brasileira, pois é verbo que não se usa por aqui habitualmente (embora eu ache hilário). 'Buns' são pãezinhos ou bolinhos doces, arredondados, com passas de uva e especiarias, como traduzir, né? Bom dia!