quarta-feira, março 28, 2007


CANÇÃO



beleza é uma concha
do mar
onde ela reina triunfante
até o que o amor a encontre

vieiras e
patas de leão
esculturas para o
tom de recuadas ondas

acentos eternos
repetidos até
que o ouvido e o olho deitem
juntos na mesma cama


William Carlos Williams
Tradução: Virna Teixeira

domingo, março 25, 2007


Você vai me seguir
Chico Buarque e Ruy Guerra


D G6/7/9 F#m7 Fm6/5+
Você vai me seguir aonde quer que eu vá
Em C6/9 G6/B A#º
Você vai me servir, você vai se curvar
D G6/7/9 F#m7 Fm6/5+
Você vai resistir, mas vai se acostumar
Em C6/9 G6/B A#º
Você vai me agredir, você vai me adorar
Am4/7 D7 G7+ Gm7 C7/9
Você vai me sorrir, você vai se enfeitar
F7+ F#m7
E vem me seduzir
B7 E A7
Me possuir, me infernizar
D Eº F#m7 Fm6/5+
Você vai me trair, você vem me beijar
Em C6/9 G3b C#7/G# C#7
Você vai me cegar e eu vou consentir
F#m7 B7 Em Gm7 C7/9
Você vai conseguir enfim me apunhalar
F#m7 B7/9- E7 A7
Você vai me velar, chorar, vai me cobrir
D9 D9/B D9/C D9/Bb D9/A
E me ninar

sábado, março 24, 2007

Se alguém conhece algum conto melhor do que Continuidade dos Parques, por gentileza, me avise. Eu nunca li nada tão genial assim.


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CONTINUIDADE DOS PARQUES
Julio Cortázar


Começara a ler a novela uns dias antes. Abandonou-a por negócios urgentes, voltou a abri-la quando regressava de trem à herdade; deixava-se interessar lentamente pela trama, pelo desenho dos personagens. Essa tarde, depois de escrever uma carta a seu procurador e discutir com o mordomo uma questão de sociedades, voltou ao livro na tranqüilidade do estúdio que olhava em direção ao parque de carvalhos. Refestelado em sua poltrona favorita, de costas para a porta que o houvera incomodado com uma irritante possibilidade de intrusões, deixou que sua mão esquerda acariciasse uma vez ou outra o veludo verde e pôs-se a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a ilusão novelesca venceu-o quase em seguida. Gozava do prazer quase perverso de ir-se desgalhando linha a linha do que o rodeava, e sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava comodamente no veludo do alto respaldo, que os cigarros continuavam ao alcance da mão, que para além das grandes janelas dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra a palavra, absorvido pela sórdida disjuntiva dos heróis, deixando-se ir até as imagens que se concertavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do monte. Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, a cara lanhada pela chicotada de um ramo. Admiravelmente estancava ela o sangue com seus beijos, mas ele rechaçava as carícias, não viera para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um monte de folhas secas e sendas furtivas. O punhal entibiava-se contra seu peito, e debaixo latejava a liberdade agarrada. Um diálogo anelante corria pelas páginas como um arroio de serpentes, e sentia-se que tudo estava decidido desde sempre. Até essas carícias, que enredavam o corpo do amante como querendo retê-lo ou dissuadi-lo, desenhavam abominavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir. Nada havia sido esquecido: alibis, acasos, possíveis erros. A partir dessa hora cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O duplo repasse desapiedado interrompia-se apenas para que uma mão acariciasse uma face. Começava a anoitecer.

Sem se olharem já, atados rigidamente à tarefa que os esperava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia seguir pela senda que ia ao norte. Desde a senda oposta ele se voltou um instante para vê-la correr com o cabelo solto. Correu por sua vez, entrincheirando-se nas árvores e sebes, até distinguir na bruma malva do crepúsculo a alameda que levava à casa. Os cães não deviam ladrar, e não ladraram. O mordomo não estaria a essa hora, e não estava. Subiu os três degraus do alpendre e entrou. Desde o sangue galopando em seus ouvidos lhe chegavam as palavras da mulher: primeiro, uma sala azul, depois uma galeria, uma escadaria alfombrada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro cômodo, ninguém no segundo. A porta do salão, e então o punhal na mão, a luz das vastas janelas, o encosto alto de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo uma novela.




Tradução de Ramon Quintela Torreira

terça-feira, março 20, 2007

IMPERDÍVEL !!!




E inacreditável. O fim do Beijo AA Força? Que saco. Não achei graça nenhuma. Minha saga começou com a Contrabanda. Sempre pleiteei o posto de fã número 1. Mesmo numa fase em que quero distância dos agitos, impossível não ir. E um passo à frente, moçada.

Monica


quinta-feira, março 15, 2007

segunda-feira, março 12, 2007



Agora ou nunca



dia de doer os olhos de tão bonito
só o mais que perfeito, meu amigo
a beleza hoje não corre perigo
vamos aproveitar bem o infinito
esse instante é o que temos no momento
vida não tem replay nem edição
já que agora está tudo cem por cento
que tal ser feliz de uma vez então?


Thadeu Wojciechowski

sábado, março 10, 2007


COISA TUA


assim que vi você
logo vi que ia dar coisa
coisa feita pra durar,
batendo duro no peito
até eu acabar virando
alguma coisa
parecida com você
parecia ter saído
de alguma lembrança antiga
que eu nunca tinha vivido,
mas ia viver um dia
alguma coisa perdida
que eu nunca tinha tido
alguma voz amiga
esquecida no meu ouvido
agora não tem mais jeito,
carrego você no peito
poema na camiseta
com a tua assinatura
já nem sei se é você mesmo
ou se sou eu que virei alguma coisa tua



letra de Alice Ruiz e música de Waltel Branco

sexta-feira, março 09, 2007


Paul di Filippo


SINTOMAS DE AMOR


O amor é uma universal cefaléia,
Brilhante mácula que a visão enleia
Obscurecendo a razão.

Sintomas de amor verdadeiro
São a magreza, o ciúme,
Lânguidas alvoradas;

São presságios e pesadelos –
À escuta de um toque,
Aguardando um sinal:

Um roçar dos dedos dela
Num quarto às escuras,
Um olhar penetrante.

Tem coragem, amante!
Aguentarias tal aflição
A outras mãos que não as dela?


Robert Graves
tradução de José Manuel, do Porto

quarta-feira, março 07, 2007




Muriel

Muriel está cansada

Muriel está casada

Muriel quer sumir.

Muriel está arrasada

Muriel está arrastada

Muriel quer sair.

Muriel está atacada

Muriel está assustada

Muriel quer partir.

Muriel tem um amante

que fala romeno

Muriel tem veneno

Muriel vai sorrir.



Greta Benitez
poema inédito

segunda-feira, março 05, 2007

FUNERAL BLUES


casal eterno- esqueletos de 5 mil anos
são achados abraçados


Que parem os relógios
cale o telefone.
Jogue-se ao cão
um osso e que
não ladre mais,
que emudeça o piano e
que o tambor sancione
a vinda do caixão com
seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo
acima e em alvoroço,
escrevam contra o céu
o anúncio: ele morreu
Que as pombas guardem
luto - um laço
no pescoço.
E os guardas usem finas
luvas cor-de-breu.

Era meu Norte, Sul
meu Leste, Oeste,
enquanto viveu,
meus dias úteis, meu
fim-de-semana
meu meio-dia,
meia-noite, fala e canto:
quem julgue o amor
eterno, como eu fiz,
se engana.

É hora de apagar
estrelas - são molestas,
guardar a lua,
desmontar o sol
brilhante,
de despejar o mar,
jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar
certo doravante.


W.H. Auden
tradução de Nelson Ascher

quinta-feira, março 01, 2007

O DIVISOR




Continuo pensando em você – o que é ridículo.
Estes anos entre nós como um mar.
E a dignidade que veio com o tempo
impediria meu lápis sobre o papel.
O som estava ligado; você pediu pelos Stones;
conseguiu, conseguiu café fresco, conversa.
As cortinas cerradas guardam uma noite selvagem.
Continuo pensando nos seus olhos, suas mãos.
Não há razão para isto, nenhuma.
Você diria que não posso ser o que não sou,
mesmo que não possa estar onde estou.
Onde isso nos leva? O que podemos fazer?
O silêncio após Jagger foi como uma capa
que joguei sobre você – havia apenas
o vento, e o relógio batia enquanto você bebia,
agarrando a caneca verde entre as mãos.
Não olhe para cima assim de repente!
Como é duro não olhar você.
Chegamos ao ponto de não falar
e não se preocupar, e aquilo
foi quase feliz. Então, mais tarde,
quando você deitou sobre o cotovelo no carpete
não senti nada além de uma punhalada
de dor me dizendo o que era,
e não posso dizer para você, nem uma palavra.


Edwin Morgan
Tradução de Virna Teixeira