sábado, abril 07, 2007


Medusa (Plath)

Desta restinga de boquilhas pétreas,
Olhos revirados por varetas brancas,
Orelhas tapando as incoerências do mar,
Você abriga sua bola-Deusa-cabeça enervante,
Lentes de piedades,

Suas comparsas
Refestelando as células loucas na sombra da minha quilha,
Forçando adiante como corações,
Chagas vermelhas bem no centro,
Cavalgando a vazante até o ponto de partida mais próximo,

Arrastando seus cabelos de Jesus.
Será que escapei?
Minha mente serpenteia até você
Velho onfalosito concheado, cabo Atlântico,
Mantendo-se, ao que parece, num estado de restauração milagrosa.

Em qualquer caso, você está sempre lá,
Respirar trêmulo no final da minha linha,
Curva d’água sobre-pulando
Pro meu molinete, ofuscante e agradecida,
Tocando e sugando.

Eu não chamei você.
Eu não chamei você mesmo.
Não obstante, não obstante
Você veio a vapor pra mim sobre o mar,
Gorda e vermelha, uma placenta

Paralisando os amantes convulsivos.
Luz ofídia
Espremendo o respirar dos sinos de sangue
Da fúcsia, eu não conseguia inspirar,
Morta e sem dinheiro,

Superexposta, como um raio X.
Quem você pensa que é?
Uma hóstia de Comunhão? Maria Carpideira?
Não aceitarei nenhuma mordida do seu corpo,
Garrafa na qual eu vivo,

Vaticano cadavérico.
Estou morta de enjôo do sal quente.
Imaturos como eunucos, seus desejos
Assobiam pros meus pecados.
Sai, sai, tentáculo de enguia!

Não há nada entre nós.


Sylvia Plath
versão brasileira: Ivan Justen Santana

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Medusa (Pound)

À medusa oramos,
petrificando o solo com o escudo,
Segurando-o para baixo
ele endureceu o trilho
Polegada, ante nós, a polegada,
a matéria resistindo,
As cabeças surgiam do escudo,
silvando, mantidas para baixo.
Vermes devorando,
a cara só a meia potência.
As línguas das serpentes
lambendo o cimo da lavadura,
Martelando a mixórdia até sólida,
a estreita tira,
Meia largura de um fio de espada.
Desta maneira por males terríveis,
ora se afundando, ora firmando-se,
Segurando o escudo insubmersível.
Oblívio,
esqueço quanto tempo,
sono, náusea de desmaiar.
"Quer em Naishapur ou na Babilónia"
Ouvi no sonho.
Desaparecido Plotino,
E escudo amarrado por baixo de mim acordei;
O portão girou nos gonzos;
Ofegante como um cão doente, cambaleava,
Banhei-me em alcali, e em ácido.
[...]
cego da luz do sol,
Olhos inchados, repousei,
palpebras a fechar, escuridão inconsciente


Ezra Pound

2 comentários:

anjobaldio disse...

É maravilhoso visitar seu blog. Grande abraço.

Anônimo disse...

Hello from Italy, do you know the name of the autor of this picture? Let me know, it's amazing, thank you!
Riccardo.