segunda-feira, dezembro 31, 2007


11 horas na minha varanda


tanta maravilha
maravilharia durar
aqui neste lugar
onde nada dura
onde nada pára
para ser ventura

Paulo Leminski

sábado, dezembro 29, 2007

Amor Líquido







O escorpião


Era uma vez um escorpião que decidiu não casar nunca. Tinha medo de ficar viúvo. Sabia que todos escorpiões podiam, de repente, suicidar. Mas o coração tem razões que até a razão desconhece. Caiu de amores por uma donzela escorpião. Sorte, era correspondido, mas ela também tinha, como ele, medo de perder seu amado. Preferiu não escutar o coração.

Por muito tempo, permaneceram sozinhos. O que os mantinha vivos era a curiosidade de saber o que o outro faria.

Um dia, ela decidiu procurá-lo e passavam horas na dança do amor, um tentando evitar ferir o outro e ser ferido. O medo da solidão sempre rondava. Vigiavam-se mutuamente, para evitar a morte.

A tal ponto que, sufocados, decidiram separar-se.

Desde então, passam a vida a se olharem de quando em quando, sempre indecisos entre o medo de ficar juntos e o risco do abandono.


Guiomar de Grammont
Caderno de pele e pêlo

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Meu (D)Jim




o que aprendi com os amigos
não reneguei nem esqueci
não me acho o melhor dos vivos
e até hoje, que eu saiba, não morri


aprendi, sim, e com maestria
dos todos que até hoje encontrei
o amor pelo que chamam poesia
que é hoje tudo que tenho e sei


imaginei-me ontem o pior de todos
porque almejo algo acima do solo
como se em meu cérebro eletrodos
me jogassem dos 34 anos para o colo


hoje, porém, nascendo o dia azul
olhei pela janela e tudo amarelo –
havia em mim uma espécie de exul
tação aos amigos, à poesia, ao belo


Marcos Prado (1962-1996)

domingo, dezembro 09, 2007


colagem e pintura em prato de vidro / maria tereza prado
série releituras de Fornasetti, Themes and Variantions
foto / fabiola pereira


noites e dias entre duas cidades tamanha ilusão
de nada serve
mesmo que o telefone toque neste instante
nós já temos um passado ouvi um dia
o ataque do presente contra o restante do tempo foi um filme que perdi
e mesmo assim ainda te quero
isso não se pontua entre duas cidades
o telefone toca e neste instante
tamanha ilusão cresce
uma espécie e presente arranca o restante do tempo
esse filme que quero ver
e sinto que mais e mais te quero
um ponto fugindo do fim


tereza prado