O escorpião
Era uma vez um escorpião que decidiu não casar nunca. Tinha medo de ficar viúvo. Sabia que todos escorpiões podiam, de repente, suicidar. Mas o coração tem razões que até a razão desconhece. Caiu de amores por uma donzela escorpião. Sorte, era correspondido, mas ela também tinha, como ele, medo de perder seu amado. Preferiu não escutar o coração.
Por muito tempo, permaneceram sozinhos. O que os mantinha vivos era a curiosidade de saber o que o outro faria.
Um dia, ela decidiu procurá-lo e passavam horas na dança do amor, um tentando evitar ferir o outro e ser ferido. O medo da solidão sempre rondava. Vigiavam-se mutuamente, para evitar a morte.
A tal ponto que, sufocados, decidiram separar-se.
Desde então, passam a vida a se olharem de quando em quando, sempre indecisos entre o medo de ficar juntos e o risco do abandono.
Guiomar de Grammont
Caderno de pele e pêlo