"A poesia é apenas a evidência da vida. Se sua vida está queimando bem, a poesia é só a cinza" - LEONARD COHEN
quarta-feira, junho 30, 2004
Mulher Gato
Subo pela escada de incêndio. O inimigo me persegue mas é inofensivo, antigo colega de cursinho. Exercito meus dons movendo-me como um felino em slow motion, pronto para atacar - domínio completo da situação. Ele se move como se não estivesse de cara com uma fera fatal - misto de admiração e surpresa. Posso destruí-lo, mas não é preciso. O poder do veludo basta. A sensação das vibrissas, das garras, a agilidade da de um grande gato. Posso deixar livre a minha presa. Eu sou a Mulher-Gato.
Minhas roupas são coloridas como o vento. Ele me conta seu sonho na montanha russa. Perde o controle, mal pode se segurar. Desequilibro-me com sua indecisão e ele me pega por uma das mãos - estou pendurada no alto da montanha. Lentamente a mão se transforma em uma pata, ele a solta, eu caio. Sou a Mulher-Gato, colorida pelo vento.
Envolta em cobertores, um grande cachorro desengonçado lambe meus dedos. Não me sinto à vontade. Levanto-me e caminho até a janela, um prédio alto. Em um retângulo de madeira grudado na beirada, ronda a pantera negra de papel de seda. Preciso descer, não sei a razão, não sei meu destino. A pantera me olha espelhando-se nas retinas e rosna. Desconfio da sua ferocidade de papel. Pulo. Ela me morde, agarrando-me com os dentes pela mão esquerda. Consigo me segurar em um cano de metal – para o meu pasmo, com a mesma mão esquerda. Sacudo violentamente a outra mão onde se agarra um sanguessuga, que me suga, suga, suga. Sua forma na calçada, morta, desenha o corpo humano. Sou uma mulher.
Zoe de Camaris
julho/94
terça-feira, junho 29, 2004
A Caveeeerna da Pantera ...
Zowie
segunda-feira, junho 28, 2004
PANTERA NEGRA
com seus olhares
de fera acesa,
a serpe-sereia
Zoe de Camaris
dança nas trevas,
lambe na areia
de seus amores
línguas ferozes,
bocas vorazes.
Na dança
que Zoe enleia
nos seus temores
e avatares,
nasce a sereia
de cauda acesa
na luz das trevas
de seus amores,
pantera negra
que me incendeia
com seus olhares.
Línguas e vozes,
bocas vorazes,
a serpe-sereia
Zoe de Camaris
tece e retece
nas malhas das teias
de seus amores
a aranha negra,
pantera acesa
que, livre na treva
de suas malhas,
preso me enreda
nas presas
de suas garras.
Mário Chamie
16/08/03
você já beijou alguma vez uma pantera?
esta mulher pensa ser uma pantera
e às vezes, quando fazemos amor
ela rosna e saliva
seus cabelos se soltam
e ela olha através dos cachos
e me mostra suas presas
mas eu a beijo mais e continuo amando.
você já beijou uma pantera?
já viu uma pantera gozando
o ato do amor?
você não amou, amigo
você com suas esquilas e elefantas e ovelhas
devia dormir com uma pantera
e nunca mais ia querer
esquilas, elefantas, ovelhas, raposas, lobas
nada a não ser a pantera
a pantera andando pelo seu quarto
a pantera andando na sua alma
mentem todas as outras canções de amor
quando essa pele escura e macia pressiona a sua
e o céu despenca nas suas costas
a mulher pantera é o sonho feito realidade
sem chance de voltar
ou desejo de -
a pele dela pressionando a sua,
a procura terminou
você está enjaulado nos olhos da pantera
(Tradução a 3 mãos - Heloísa Reis & Ivan Justen & Zoe de Camaris)
Charles Bukowski