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Estátua de Loreley no Reno
LORELEI
Não é uma noite pra se afogar dentro:
Uma lua cheia, rio decaindo
Negro entre brando brilho-espelho,
Os vapores d´água azuis pingando
Fios após fios feito redes de pesca
Apesar dos pescadores estarem dormindo,
Os torreões maciços do castelo
Duplicando-se numa superfície
Toda mansidão. Mas flutuam estas
Formas até mim, perturbando a face
Da quietude. Do ponto mais baixo
Se erguem, seus membros graves
De riqueza, cabelo mais pesado
Que mármore esculpido. Cantam
Sobre um mundo mais cheio e claro
Que o possível. Irmãs, seu canto
Carrega uma carga densa em demasia
Pra audição do ouvido espiralado
Aqui, numa terra bem dirigida,
Sob um governante destro.
Transtornando pela harmonia
Muito além da ordem terrestre,
Suas vozes armam cerco. Hospedam-se
Nos recifes agudos do pesadelo,
Prometendo acolhida certa;
De dia, descantam dos limites
Da hebetude, das altas janelas
Também na beira. Pior ainda que
Seu enlouquecedor canto,
O seu silêncio. Na origem
Do seu apelo de coração gelado –
Bebedeira das grandes profundidades.
Oh rio, eu vejo derivando
No fundo do teu fluxo prateado,
Aquelas grandes deusas de paz.
Pedra, pedra, me leve lá pra baixo.
Sylvia Plath
Versão brasileira: Ivan Justen Santana