Todos esses senhores estavam ali dentro quando ela entrou completamente nua eles tinham bebido e lhe cuspiram ela não entendia nada recém saída do rio era uma sereia que tinha se perdido os insultos corriam sobre sua carne lisa a imundície cobriu seus peitos de ouro ela não sabia chorar por isso não chorava não sabia se vestir por isso não se vestia tatuaram-na com cigarros e rolhas queimadas e riam até cair no chão da taverna ela não falava porque não sabia falar seus olhos eram cor de amor distante seus braços construídos de topázios gêmeos seus lábios cortados na luz do coral e de pronto saiu por essa porta apenas entrou no rio ficou limpa reluziu como uma pedra branca na chuva e sem olhar pra trás nadou de novo nadou até nunca mais até morrer.
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FÁBULA DA SEREIA E DOS BÊBADOS
Todos esses senhores estavam ali dentro
quando ela entrou completamente nua
eles tinham bebido e lhe cuspiram
ela não entendia nada recém saída do rio
era uma sereia que tinha se perdido
os insultos corriam sobre sua carne lisa
a imundície cobriu seus peitos de ouro
ela não sabia chorar por isso não chorava
não sabia se vestir por isso não se vestia
tatuaram-na com cigarros e rolhas queimadas
e riam até cair no chão da taverna
ela não falava porque não sabia falar
seus olhos eram cor de amor distante
seus braços construídos de topázios gêmeos
seus lábios cortados na luz do coral
e de pronto saiu por essa porta
apenas entrou no rio ficou limpa
reluziu como uma pedra branca na chuva
e sem olhar pra trás nadou de novo
nadou até nunca mais até morrer.
Pablo Neruda (1904-1973)
poema do livro Estravagario (1958)
Dublado (2005) por
Ivan Justen Santana (1973 - ?)
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