segunda-feira, novembro 14, 2005


9 poemas






chega de rosas e azul. todos pistilos de uma só vez - os que estavam guardados na pasta de buquês.

mônicas cromáticas para alice ruiz, marcos prado, greta benitez, paul celan, thadeu wojciechowski, cláudio daniel, virna teixeira e para zoe que me camaris.
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a natureza do eterno

que flor é esta?
finge que morre
e quando menos se espera
é flor indo, flor vindo, floresta em festa

que flor é esta
que sempre resta?


Alice Ruiz




Exata

Rosa náutica
Rosa dos ventos
Rosa crítica
Seria a flor totalmente estática?
Seria a vida extremamente prática?
Onde ficaria a política?
Se o mistério da ótica fosse a temática
Pra que serviria a matemática?
Se a crise enfática sobrevivesse ao fato
Se a música poética não tocasse o tato
Qual seria a finalidade da flor?

Greta Benitez




entrix

a mulher
sim a flor
na ante sala

a mulher
sim o amor
no após sala

a mulher
sim a música
olhares jimi hendricolados

a mulher
na protuberância de suas pétalas
o que te diz?

entrix
nós e a flor
o infinito lá fora

thadeu wojciechowski




BOBAGENS DE VERÃO


ei, benzinho, encara comigo um frio de rachar
num vagãozinho flor-de-rosa?
OK, eu empresto a almofada e meus sonhos
azuis pro teu sono
suaves ninhos de beijos no seu rosto gelado,
só de brincadeirinha

vê se dorme de uma vez, fecha o canto dos olhos
esse filme é ruim de rachar
franksteins de farda
vampiros caolhos
e outros demônios
negros, adoráveis lobos

e aí, só de sacanagem, escorro meus dedos na sua cara
meu caro
um beijo molhado no pescoço,
uma aranha tresloucada

e você, tolinho, morto de susto, dirá:
socorro!

e perderemos nosso tempo
a procurar coisa alguma
porra, como esse
trem viaja depressa


Zoe de Camaris
p.s.: uma tradução infiel e bem mau-humorada para Rêve pour l'hiver, de Monsieur Rimbaud, rascunhada no verão de 98 na Ilha do Mehl.




minha flor
já matei muita
roseira no peito
já nadei muito
mar de rosa
atrás do seu cheiro
cio e ácido
navalha maravilhosa
sangue plácido

Marcos Prado


FLORBELA ESPANCA

bata na flor que te ama
dedo na pétala aveludada
toca o todo morde tudo
demoro muda e amada

bata, bata,

bata na flor aliada
na rima consagrada
seiva que se quis sílaba
bata na flor abstrata

bata, bata,

bata na flor que te ata
vermelha, puta, feiticeira
a flor que incendeia
carnívora cilada

bata, bata,

bela e bélica
ama e mata
bata, bata, bata.


Zoe de Camaris
1999




CALÇADA


pequeno, o
frágil
corpo
soluça

vermelha,
a flor
entre os
dedos


virna teixeira



Até cinzas


Talvez
pétala, bailado
mudo, ardência:
aqui
é onde a seda
inflama o azul
em amarelo
(fosse tingida
em volátil púrpura,
cicatriz esculpida
em outra voz).
Algo de felina,
ruidosa volúpia
em seu desejo,
que se consome
até cinzas.


Cláudio Daniel





ESTOU SÓ, arrumo a flor de cinzas
no vaso cheio de maduro negrume. Boca-irmã,
falas uma palavra que sobrevive diante das janelas,
e escala muda o que sonhei, em mim.

Eis-me na flor da hora murcha
e poupo uma resina para um pássaro tardio:
ele traz o floco de neve na pluma vermelho-vida;
o grãozinho de gelo no bico, e atravessa o verão.

Paul Celan


2 comentários:

Anônimo disse...

Pantera, tudo bem aqui! Muito legal! Beijabração. cão.

virna disse...

atualizando o cyberspace, após férias curtas. lindo o post das flores. obrigada por publicar o meu poema.
um beijo