domingo, agosto 13, 2006

À Rita




A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
E o que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de são Francisco
E um bom disco de Noel

A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão


Chico Buarque
1965


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A última vez que encontrei Rita Pavão foi na esquina da Senador Alencar Guimarães com a Emiliano Perneta. Estávamos as duas com pressa, mas conversamos um pouco. Gostei muito de reencontrar a fera. Fiz jazz com ela durante um tempo - não era bolinho. Uma professora exigente que, um dia, me disse: - "Escuta, pára de tentar gravar a coreografia com a cabeça. O corpo tem memória, deixa ela funcionar". Como um passe de mágica, funcionou.
Ontem, uma amiga chegou aqui em casa e me contou que Rita se foi. Procuramos até cansar no Google alguma nótícia mas o Paraná Online me sacaneou. Sem chance. Tinha visto uma foto dela há dois dias no blog do Solda e pensei comigo: - olha aí a Rita. Mal sabia que era uma homenagem do cartunista à bailarina.
Bem, Rita encerrou seus assuntos no dia primeiro de agosto de 2006, dando início ao mês do cachorro louco. E com certeza levou consigo o sorriso de muita gente.

Zoe

7 comentários:

Unknown disse...

Nossa

Saudade? é pouco!!
estudei seis meses com ela na filosofia... lembro direto dela
deixou um vazio enorme na sala...
doi muito...

era uma pessoa maravilhosa!
passa la
tem homenagem pra essa fera!
bjão

Anônimo disse...

Rita minha professora,até hoje como ela dizia carrego na memória do meu corpo suas coreografias e no meu coração toda a paixão pela dança.Obrigada Rita.Bjs.

L Cardoso disse...

Puxa, andei fora tanto tempo. Não sabia que a Rita tinha partido. Fiquei sabendo, quando resolvi procurar informações sobre ela.
A conheci em 1997, tivemos alguns momentos maravilhosos. E agora, só agora, tenho novas (e más) noticias sobre ela.

Ricky disse...

Amei Rita por quase 2 anos, em que me dividia entre o Rio (onde ainda moro) e Curitiba, somente por causa dela.
Acabou pela distância, que agora ficou maior.
Chegando lá, vale a pena procurá-la...para todos nós.
Bjs, Rita!

ALESSANDRA CALZOLARI disse...

RITA PAVÃO! GRANDE LEMBRANÇA. TEATRO GUAÍRA, ENTRE 1978 E 1983. LEMBRO COMO SE FOSSE HOJE, CABELOS CURTOS, VERMELHOS...EXIGENTE, PERFECCIONISTA. DIFERENCIAL: CARISMÁTICA. CONQUISTAVA NOSSO COMPROMETIMENTO MOVIDO PELO SUOR COM, SERIEDADE E RESPONSABILIDAE. DISCIPLINA E PERSEVERANÇA FAZIA PARTE DO SEU LEMA...APRENDI QUE DISCIPLINA,SERIEDADE E PROFISSIONALISMO PODEM SER EXPRESSADOS ATÉ COM UM SORRISO NO ROSTO.
FORÇA...E SORRIA. O PÚBLICO DEVE SENTIR A GRAÇA DOS GESTOS , NUNCA A DOR DEO TEU ESFORÇO PRA MANTER A PERNA SEGUNDOS.....NUM ADÁGIO!!!!
BOAS LEMBRANÇAS....

Anônimo disse...

ainda te amo

Anônimo disse...

Convivi com Rita um pouco antes de sua partida. Ficávamos na sala de seu apartamento atravessando madrugadas regadas a conversas, música e vinho. Eu, muito jovem, fascinada por aquela figura quase mítica, sobre a qual eu nada sabia, pois quem nos apresentou apenas me avisou: ela é bailarina. Na minha inexperiência imaginei, antes de vê-la, uma jovem como eu. Mas, para minha surpresa, e fascinação, era uma mulher madura, muito jovem sim, mais ainda de espírito. Que, em nossos encontros, parecia meio alheia a nós, ao mesmo tempo que nos arrodeava alternando entre posições de yoga e de balé. Uma dia, ela me convida para conhecer seu quarto, mais especificamente seu closet, já que havia comentando com ela que adorava brechós. Aquilo foi surreal. Lembro como se fosse hoje do cheiro que exalava dos armários enquanto ela abria. Os casacos que, segundo ela, usara na "não-tão-fria" Califórnia dos anos 70, mas que eram muito charmosos e que, na fria Curitiba, eram ainda mais propícios. Sinto que os anos estão apagando seu rosto e sua voz de minha memória, por outro lado, as sensações da forte presença dessa mulher parecem inabaladas. Embora eu nunca tenha falado o quanto a admirava, hoje, 15 anos depois e já bem mais próxima de sua idade, sei que ela, em sua grandeza e sagacidade, deve ter lido isso, como ela mesma gostava de dizer, através do meu corpo. Um dia, lá estaremos, passeando juntas pelos brechós da eternidade! Um beijo, Rita.