sexta-feira, setembro 29, 2006



SUMÁRIO ASTRAL

- fragmento inicial -


Em forma humana
e habitada pela linguagem
lanço os dados
e abro os livros.
Ninguém dança persuadido.
Os braços se erguem unicamente
para bater com as mãos,
não para traçar algum signo.
Observo os detalhes do fogo
pintado para parecer uma cara.
Todo mundo se pisa.
Descansam os frutos e não os comem.
As bandeiras são da cor do caos,
e a serpente é a senhora dos viventes.
O sal não evita que o mar apodreça,
nem as letras correspondem ao trabalho.
A prova é que o poder atua como único centro
e no mundo se produzem artifícios
que compactuam com todas as conclusões
(e gêneros de especulação)
que seria conveniente abandonarmos.
A força das rochas não pensa.
Escrevo signos e letras
em um couro de boi.
Traslado ao pensamento
a terra, o céu e a água
e lanço areia sobre um espelho
para observar desenhos imprevisíveis
ou para traçar uma letra.
Ano após ano,
esgaravato a terra com as unhas
para poder cortar a sombra
que me ultrapassa e penetra as raízes.


Joan Brossa
Tradução de Ronald Polito

( roubado do Pele de Lontra)

Um comentário:

Clau disse...

Voltou ao antigo template? Acho que fica melhor mesmo...
Beijos :-)