domingo, janeiro 28, 2007


Soneto


Eu preciso de música que flua
nas pontas finas, frágeis dos meus dedos,
nos meus lábios amargos de segredos,
com melodia líquida e nua.

Ah, a antiga ginga sã e crua
de uma canção que aos mortos dê guarida,
água que me cai sobre a testa erguida,
o corpo febril, um brilho de Lua!

A melodia pode enfeitiçar:
magia calma, respiração pura,
um coração que afunda no abandono
da mansa, escura imensidão do mar

e flutua pra sempre na verdura,
amparado no ritmo e no sono.


Elizabeth Bishop
tradução de Jorge Pontual

3 comentários:

Ruan disse...

A poesia de Bishop é que hipnotiza.
intenso poema.

não sabia que havia traduções dele no Brasil, conhecia o original =)

Anônimo disse...

(trad. 29 Jan ’07)

Estou Carente de Música

Estou carente de música que se derramaria
Sobre meus desinquietos, delicados dedos,
Meus lábios tintos de amargura, e segredos,
Com profunda, clara, líquida e lenta melodia.

Oh, da antiga e recatada, curativa harmonia,
Da canção para os mortos cantada sem pressa,
Uma canção caída como água na minha cabeça,
E sobre frágeis membros, radiante de sonho e alegria!

Há uma magia que a melodia faz sem engano:
Um feitiço de repouso, e calmo respirar, e ameno
Coração, que se afunda por entre cores de outono

Na suavidade subaquática do oceano,
E paira para sempre num lago verde e sereno,
Suspenso nos braços do ritmo e do sono.

Anônimo disse...

ótima versão da bishop,por si mesma
sempre excepcional.
romério rômulo
romerioromulo@hotmail.com