quinta-feira, novembro 25, 2004


Salomé / Flapper


SALOMÉ


Para que uma vez mais João Batista sorria,
Senhor, eu dançarei melhor que um serafim.
Mãe, por que estás imersa em tal melancolia,
Vestida de condessa e ao lado do delfim?

Meu coração, só de escutá-lo, quando eu vinha
Dançar junto ao funchal, batia angustiado.
Eu lhe bordara lírios numa bandeirinha
Destinada a flutuar no alto do seu cajado.

E agora, para quem farei lírios bordados?
Seu bordão refloresce às margens do Jordão.
Vieram prendê-lo, ó Rei Herodes, teus soldados,
E em meu jardim lírios murcharam desde então.

Vinde, todos comigo, além, sob os quincunces...
Não chores mais, lindo bufão de reis;
Em vez do guizo, empunha esta cabeça, e dança!
Mãe, sua fronte fria está. Não lhe toqueis.

Senhor, ide na frente e que a guarda nos siga.
Abriremos um fosso e nele o enterraremos
Entre flores e, em roda, em torno dançaremos,
Dançaremos até que eu perca a minha liga,
O rei a tabaqueira, a infanta o seu rosário
E o cura o seu breviário...


Apollinaire

Tradução de Onestaldo de Pennafort

gentilmente cedida por Ivan Justen Santana
www.ossurtado.blogspot.com

p.s.: Ivan, fiz algo que não se faz. Troquei a palavra quincôncios,
que é horrível, por quincunces, que é mais bonita e adequada.
Azar do Pennafort.

Um comentário:

Ivan disse...

Zoe, Zoe, linda Zoe: é assim que se faz sim, anarquismo que se preza não deixa por menos.

Puxa, seu blog está cada vez mais lindo, beleza de pantera que quase chega perto da beleza da dona...

Aliás, essa última imagem está de perder a cabeça...