segunda-feira, setembro 17, 2007


Sonetos que não são (I)


Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha.)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.


Hilda Hilst
Roteiro do Silêncio (1959)

2 comentários:

Priscila Manhães disse...

Zoe,

adoro, adoro a poesia da Hilda Hilst. Você já ouviu a Ode que ela escreveu e o Zeca Baleiro musicou? Quem canta é Maria Bethânia, Zélia Ducan e outras cantoras. É linda. Se não, te mando. :)

Bisous

D ... disse...

uau! esse é poema mais bonito que eu já li da Hilda. Aliás, esse tipo de impressão é muito recorrente nas visitas que faço ao teu blog...