Sonetos que não são (I)
Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha.)
Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha.)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
Hilda Hilst
Roteiro do Silêncio (1959)
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
Hilda Hilst
Roteiro do Silêncio (1959)
2 comentários:
Zoe,
adoro, adoro a poesia da Hilda Hilst. Você já ouviu a Ode que ela escreveu e o Zeca Baleiro musicou? Quem canta é Maria Bethânia, Zélia Ducan e outras cantoras. É linda. Se não, te mando. :)
Bisous
uau! esse é poema mais bonito que eu já li da Hilda. Aliás, esse tipo de impressão é muito recorrente nas visitas que faço ao teu blog...
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