terça-feira, novembro 30, 2004


Alla Nazimova in Salomé


SALOMÉ


En el palacio hebreo, donde el suave
humo fragante por el sol deshecho,
sube a perderse en el calado techo
o se dilata en la anchurosa nave,

está el Tetrarca de mirada grave,
barba canosa y extenuado pecho,
sobre el trono, hierático y derecho,
como adormido por canciones de ave.

Delante de él, con veste de brocado
estrellada de ardiente pedrería,
al dulce son del bandolín sonoro,

Salomé baila y, en la diestra alzado,
muestra siempre, radiante de alegría,
un loto blanco de pistilos de oro.

Julián del Casal
Mi Museo ideal, 1892

(o poema foi composto para o quadro de Gustave Moreau)



Salomé / Glen Vause


Salomé


Son cual dos mariposas sus ligeros
pies, y arrojando el velo que la escuda,
aparece magnífica y desnuda
al fulgor de los rojos reverberos.
Sobre su oscura tez lucen regueros
de extrañas gemas, se abre su menuda
boca, y prodigan su fragancia cruda
frescas flores y raros pebeteros.
Todavía anhelante y sudorosa
de la danza sensual, la abierta rosa
de su virginidad brinda al tetrarca,
y contemplando el lívido trofeo
de yokanán, el núbil cuerpo enarca
sacudida de horror y de deseo.


Efrén Rebolledo
Caro Victrix, 1926

domingo, novembro 28, 2004


La Savia Derramada / ALEJANDRO PUGA - COLLAGE
sobre imagem de Leonardo da Vinci, São João Batista

www.alejandropuga.com.ar
www.zazie.at Special Editions
www.surrealcoconut.com Documents



Eu gostaria de beijar sua boca, João Batista
Eu quero beijar sua boca
Eu vou beijar sua boca, João Batista




sábado, novembro 27, 2004


imagem alemã


DIVERSAS LUAS


Pajem de Herodíade – Olhe a lua. Como está estranha, parece uma mulher saindo do túmulo. Parece uma mulher morta (...) procurando mortos.
.................................

Narraboth – Como a lua está estranha hoje ! Ela sorri através dos véus de nuvem como uma princesa, uma princesa de olhos de âmbar.

...................................

Salomé – Não é bom ver a lua? Ela é casta e fria, estou certa que é virgem. Ela é virgem. Jamais se maculou. Nunca se entregou a homens como outras deusas.

......................................

Herodes – A lua está estranha hoje. Não está? Parece uma louca procurando amantes. Está completamente nua. Nuvens tentam vesti-la mas ela não quer. Cambaleia pelas nuvens como uma vadia bêbada. Certamente procura amantes ... Parece uma louca, não?

Herodíades – Não. A lua se assemelha à lua e nada mais.

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Herodes - Veja a lua. Está vermelha feito sangue, como disse o profeta. Ele previu que a lua ficaria vermelha como sangue.


(trechos do filme de Ken Russel)





LUA DIVERSA


Quando o olho a lua sem óculos, o astigmatismo a duplica. Minha lua “natural” é de outro planeta; minha Terra tem duas luas onde canta o pássaro do paraíso. A lua cheia está entrando em Gêmeos. Cheia. Duas lentes. Duas luas. Cada um vê aquilo que deseja - eis a perfeição do mundo sublunar.

O filme de Ken Russel começa com um cenário de teatro, fake, decadente. João Batista está em uma jaula – é o artista da fome. Ao seu redor, mulheres vestidas feito panteras sádicas imitam os trejeitos da fera e maltratam o profeta com seus chicotes sibilantes. A lua cheia é um rasgo no pano de fundo. Ainda branca.

Zoe

quinta-feira, novembro 25, 2004


Salomé / Flapper


SALOMÉ


Para que uma vez mais João Batista sorria,
Senhor, eu dançarei melhor que um serafim.
Mãe, por que estás imersa em tal melancolia,
Vestida de condessa e ao lado do delfim?

Meu coração, só de escutá-lo, quando eu vinha
Dançar junto ao funchal, batia angustiado.
Eu lhe bordara lírios numa bandeirinha
Destinada a flutuar no alto do seu cajado.

E agora, para quem farei lírios bordados?
Seu bordão refloresce às margens do Jordão.
Vieram prendê-lo, ó Rei Herodes, teus soldados,
E em meu jardim lírios murcharam desde então.

Vinde, todos comigo, além, sob os quincunces...
Não chores mais, lindo bufão de reis;
Em vez do guizo, empunha esta cabeça, e dança!
Mãe, sua fronte fria está. Não lhe toqueis.

Senhor, ide na frente e que a guarda nos siga.
Abriremos um fosso e nele o enterraremos
Entre flores e, em roda, em torno dançaremos,
Dançaremos até que eu perca a minha liga,
O rei a tabaqueira, a infanta o seu rosário
E o cura o seu breviário...


Apollinaire

Tradução de Onestaldo de Pennafort

gentilmente cedida por Ivan Justen Santana
www.ossurtado.blogspot.com

p.s.: Ivan, fiz algo que não se faz. Troquei a palavra quincôncios,
que é horrível, por quincunces, que é mais bonita e adequada.
Azar do Pennafort.

quarta-feira, novembro 24, 2004


A Última dança de Salomé
texto: Oscar Wilde
direção: Ken Russel


A SEDUÇÃO


SALOMÉ – Iokannan !

IOKANNAN – Quem fala?

SALOMÉ – Apaixonei-me pelo seu corpo, Iokannan ! É um corpo branco como lírio num campo intocado pela foice. É branco como a neve nas montanhas de Judá que desce até os vales. As rosas do jardim da Rainha da Arábia não são tão brancas quanto seu corpo. Nem as rosas do jardim da Rainha da Arábia, o jardim de perfumes da Rainha da Arábia, nem as pegadas da Aurora sobre as folhas, nem o seio da lua ao se pôr no colo do mar... nada no mundo é tão branco como seu corpo. Deixe que eu toque seu corpo.

IOKANNAN – Para trás, filha da Babilônia ! Foi pela mulher que o mal veio ao mundo. Não fale comigo. Não desejo ouvi-la. Ouço só a palavra de Deus.

SALOMÉ - Seu corpo é horrível. É como o corpo de um leproso. É como o caminho por onde passaram serpentes onde os escorpiões fizeram seu ninho. É horrendo. Seu corpo é horrendo. É seu cabelo que eu amo, Iokannan. Seu cabelo é como cachos de uvas, como cachos de uvas negras suspensos nas vinhas da Iduméia, no país dos idumeus. São como os cedros do Líbano, os grandes cedros do Líbano que dão sombra aos leões e ladrões que se escondem de dia. As longas noites negras, quando a lua se esconde e as estrelas sentem medo não é tão escuro como seu cabelo. Nada no mundo é tão negro quanto seu cabelo... Deixe que eu toque seu cabelo.

IOKANNAN – Para trás, filha de Sodoma. Não me toque ! Não viole o templo de Deus !

SALOMÉ – Seu cabelo é horrível ! Coberto de lama e pó. É como uma coroa de espinhos na sua testa. Um emaranhado de cobras enrolando-se no seu pescoço. Não estou apaixonada pelo seu cabelo...É a sua boca que eu amo, Iokannan. A sua boca é como uma faixa escarlate ao redor de uma torre de marfim. Uma romã cortada por uma faca de marfim. A flor da romã que nasce nos jardins de Tiro, mais vermelha que a rosa, não é mais vermelha que ela. Os gritos rubros da trombeta anunciando a vinda de reis que amedronta o inimigo não são tão vermelhos. Sua boca é mais vermelha do que os pés de quem amassa uvas nos caldeirões de vinho. É mais vermelha que os pés da pomba que vive nos templos alimentada por sacerdotes. É mais vermelha que os pés de quem vem da floresta após matar um leão e de quem já viu tigres dourados. Sua boca é como um galho de coral que o pescador achou na meia luz do mar e guardou para dar ao rei. É como o cinabre encontrado nas minas de Moab e que os reis confiscaram. É como o arco do rei da Pérsia pintado de vermelho com a tinta do coral. Nada no mundo é tão rubro quanto sua boca... Deixe que eu beije sua boca.

IOKANNAN – Nunca. Filha da Babilônia, filha de Sodoma, nunca !

SALOMÉ – Beijarei sua boca, Iokannan. Beijarei sua boca.

NARRABOTH, o Pajem da Síria – Princesa, princesa, a senhora que é um buquê de mirra, a pomba das pombas, não olhe para esse homem. Não diga essas coisas. Eu não suporto. Não diga essas coisas.

SALOMÉ – Beijarei sua boca, Iokannan.

(Narraboth se mata com uma punhalada no ventre e cai entre João Batista e Salomé)

GUARDA – Princesa, o jovem Capitão se matou.

IOKANNAN – Não tem medo, filha de Herodíades? Não avisei que ouvi as asas do anjo da morte? O anjo não veio?

SALOMÉ – Deixe que eu beije sua boca.

IOKANNAN – Filha de adúltera. Só um homem pode salvá-la. ( ...)

SALOMÉ – Deixe que eu beije sua boca.

IOKANNAN – Amaldiçoada seja, filha de mãe incestuosa. Maldita seja !

(João Batista cospe na boca de Salomé e ela lambe os lábios)

IOKANNAN – Não olharei para você. Está amaldiçoada, Salomé. Está amaldiçoada.

SALOMÉ – Beijarei sua boca, Iokannan. Beijarei sua boca.

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(trecho do filme, copiado dos letreiros e comparado com a versão
em francês, por Zoe de Camaris)

domingo, novembro 21, 2004

A Última Dança de Salomé


ilustração de Audrey Beardsley para a tradução inglesa de Salomé, peça de de Oscar Wilde


Sensualidade. Uma faca, duplamente afiada? Tudo é duplo na mulher, triplo, cinco fases da lua. Quando falo da pantera, pensam que é apologia. Se desvelo as estratégias, seria eu a felina? Só na fase negra. Sou corça quando a lua é nova, pomba quando cresce, serpente quando está cheia, loba na minguante ... eu e todas. Todas em mim. Em qualquer uma. Qualquer mulher.

Salomé ama JOKANAAN. Salomé mata JOKANAAN. É lua virgem, é dançarina de Vênus, é menina mimada. São cortadas inúmeras vezes a cabeça do mesmo homem por diversas Salomés. Eles oferecem suas cabeças cantando vitória e uivam para lua tinta de vermelho, invisível para os seus olhos. São muitas as Salomés, a mesma cabeça diversamente cortada. Crê o homem que as possui, são apenas possuídos. Crê a mulher ser possuída porque esse é seu desejo. Enquanto isso, há lua lá fora e inúmeros sóis submersos. Tantos sóis quanto cabeças cortadas.

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Só hoje consegui pegar na locadora o filme A Última Dança de Salomé, de Wilde, dirigido por Ken Russel. Desisti do C. Saura, preferi cinematografar meu fim de semana com catálogos, já que ninguém me paga para ficar aqui pesquisando, digitando, escrevendo. Paixão dá nisso. O preço é alto e a gente encara sozinha, ninguém para dividir a conta. Mas não reclamo muito não. Adoro saber coisas sobre as quais, talvez, nunca ninguém me pergunte. Saber é excitante. E já estou aprendendo a ignorar outras. Porque ignorar faz parte do Saber. É a ignorância sabida.

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Salomé é muitas, como toda mulher. Se um homem tem três mulheres, multiplica seus problemas por cinco, no mínimo. Os índios conheciam o perigo que o homem moderno desconhece. O excesso enfraquece. Dilui, estraga, entorpece. As mulheres, cansadas de bater na mesma tecla, adotam idêntico comportamento. Ninguém é de ninguém, não é isso? E o sexo torna-se palco de mesmices. Momices. O teatro dos pobres, diria Wilde. Trepar - palavra perfeita, pois revela um ato mecânico - equivale a comer uma fruta doce (araticum?) no quintal de casa e jogar o caroço fora. Sendo o mistério do amor maior o que da morte, escolhemos a morte.

"Nesse dia, o sol ficará escuro como um saco de penas, a lua ficará como sangue, as estrelas cairão na terra como um figos verdes das árvores. Os reis da terra sentirão medo"


(fala de João, o Batista, em A Última dança de Salomé)

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O que Wilde explora na sua peça proibida por imoralidade é o arraigado temor masculino em ser tragado pela vagina da mulher. A vagina dentata. Atargátis, a deusa-sereia que exigia de seus discípulos a castração é ancestral de Salomé.

São diversas as patológicas decorrentes - homossexualismo, impotência, satiriáse, em diversos graus de intensidade.

A busca de diversas mulheres, por exemplo, de modo praticamente indistinto, é uma forma de controlar o medo de Atargatis. Contê-lo. Repetindo o eterno vai-e-vem, dentro e fora da mulher, alternando presença e ausência, o homem retoma um ilusório controle da mãe primeva. O medo de ser engolido pelo útero materno, de volta ao líquido amniótico, sem nenhum poder.

O medo não é apenas do sexo, o medo é do amor somado ao sexo, que pode soar incestuoso. E o incesto é mote na passagem bíblica que retrata Salomé, filha de Herodíades. Herodíades, a adúltera, aquela que deixa o marido morrer para casar-se com seu irmão. Os olhares pecaminosos de seu marido Herodes para sua filha adolescente. O incesto é o tabu dos tabus.

Temeria o homem o amor que abraça, como representação de engolimento fatal pelo útero materno? Isso explicaria o discutido imperativo biológico? Não seria o homem maduro aquele que enfrenta seu medo, livra-se da mãe primeva e a retoma em uma oitava maior?

O medo de morrer é confundido com o prazer de amar. Eis a pequena morte. Deve-se procura apenas o amor.

domingo, novembro 14, 2004


Andrea del Sarto / Head of St. John Baptist


III. CÂNTICO DE SÃO JOÃO


(imaginar a cabeça de São João servida numa bandeja, cantando)


O sol que um sobressalto
Apruma para o alto
Em breve redescende
Incandescente

Por um momento a treva
Das vértebras se eleva
Em uníssono passo
Por todo o espaço

Para que esta cabeça
Solitária apareça
No vôo singular
Da foice no ar

Em completa ruptura
Mais repele ou fratura
A desavença antiga
Que ao corpo a liga

Bêbada de jejum
Que persegue nalgum
Salto louco a vogar
Seu puro olhar

Lá no alto onde os cumes
Eternos têm ciúmes
De que possais vencê-los
Todos ó gelos

Mas levada ao abismo
Pelo mesmo batismo
Que elegeu minha sina
Grata se inclina.


Stéphane Mallarmé - 1913
Tradução de Augusto de Campos - 1987

Publicado originalmente no blog MORTE SÚBITA
http://ossurtado.blogspot.com/
dia 12 de novembro de 2004

sexta-feira, novembro 12, 2004


St. Johh Baptist /Caravaggio


Por quem morre o profeta ? João, o Batista, ama seu deus acima de qualquer coisa. Se entrega a um único amor. Sua língua é o chicote de Deus. Não volta os olhos para Salomé, aquela que manipula todos que a olham. No entanto, ele é o primeiro a usar a linguagem do sexo, ao falar sobre Herodíades, denunciando sua lascívia. E Salomé, "a perfeita" em hebraico, é casta e impúbere. Teria sido Salomé fisgada pela linguagem? As palavras do profeta excitam e incitam a libido da jovem, branca e virgem como a lua?

O discurso dúbio enlouquece qualquer mulher. Ora assim, ora assado. É estranho que o façamos o homem perder a cabeça?
Zoe

quinta-feira, novembro 11, 2004


Salomé / Gustave Klimt


Salomé


III


El sacro ritmo de la danza marca,
en la cintura, un junco que se quiebra;
en el torso, un gran lirio que se enarca,
y en los flancos, el anca de la cebra.


Ardiente el ojo inmóvil del Tetrarca,
en la armoniosa ondulación se enhebra
y enturbia el cristal, como la charca
cuyo fondo agitara una culebra.


En la fiebre divina que la impulsa,
Salomé es una ménade convulsa.
Danza con el furor de la bacante


que azota el dios en el antiguo coro,
hasta que por la sangre pululante
de Juan, resbalan sus talones de oro.



Rafael López
Obra poética


Salomé / autor desconhecido


La manzana amarga


II


Salamandra en cuyo juego
el misterio de la carne solloza su viejo drama.
Honda criatura hecha de sombra y de fuego,
fulminada en las cenizas que lloró la propia llama.


Sobre un prado de violetas,
episcopal y tranquilo,
traza aviesos monogramas
una serpiente del Nilo.


En la liturgia maléfica se gasta el perfume denso
de su carne, como el humo de la resina oriental.
Por la niebla sacrosanta del incienso
cruza su efluvio maligno de la llaga original.


Cual menguante en el desierto
tu perfil de camafeo
ambula desenterrado
tras un remoto hipogeo.


Hécate va por el bosque victoriosa. En su carrera,
chafa lirios taciturnos bajo la planta crüel.
Tiembla la luna en el salto de una elástica pantera
que luce ruedas de sangre sobre el oro de la piel.


Del árbol del paraíso,
con serpentino ademán,
la amarga manzana ofreces
al labio seco de Adán.


El suspiro que se heló en su boca inerte
junta en el tedeum del beso el réquiem del estertor.
Asoma los ojos turbios a la noche de la muerte,
mientras las manos se crispan en las rosas del amor.


Y del amor y la muerte
los duros pinceles toma
sin miedo, para teñirse
los rojos pies de paloma.


Loca sangre de suicidas fecundó por los caminos
las mandrágoras que bordan el tapiz de la inquietud,
por donde van resbalándose sus talones purpurinos
hasta que se pongan pálidos en la cal del ataúd.


Y se va por sus senderos,
peregrina y tornasol,
envuelta como las nubes
entre retazos de sol.


Rafael López
Obra poética

Salomé / P. Schmutzler


La danza

I


En un chorro de fuente, el agua sacra
de la danza respira. Surto en la luz de oro,
el tallo de cristal lento se quiebra.
Y Salomé claudica y se demarca
en su piel de culebra.


Heleniza el ritmo de sus huesos
musicales. Disuelven sus rodillas
las plásticas de los besos
y las curvas de las arcillas.
La figura exquisita y magra,
un hidromiel de dioses en una copa fina
hace beber. Y el gesto es de Tanagra
y la copa, murrina.


Las alas que desdoblan vuelos flojos,
para la emoción de aires tranquilos
son motivos melódicos y puros
bajo el sortilegio de los ojos
que columpian cocuyos en berilios
trémulos e inseguros.


El ojo y la sonrisa, maestros de elocuencia,
relatan con rítmica ciencia
el episodio de la melodía.
Como en estío, los rosales
de la sonrisa están en flor,
frescos de aromas perentorios.


Diseña la mirada en su inquieto verdor,
Venecias ilusorias
praderas irreales
y esmeraldas que la luz irisa.
Unánimes, el ojo y la sonrisa
llevan el compás en sol mayor.


El pie, cordero, apenas trisca
la mandrágora verde que vierte,
desde la sensual cadera morisca,
el olor del amor y de la muerte.
Contrito el rey lúbrico, serena
la zarpa de sus tigres carniceros
y se esfuma la cabeza ensangrentada
de Juan, en el humo de los pebeteros.
La diosa de la danza amena
exige el sacrificio de una rosa cortada
por la mano de Atena.


Y la noche locamente rueda
por la cortina escarlata,
una luna derrumbada y oficiosa
que remolca un relámpago de plata,
e improvisa un tapiz de seda
para el deshojamiento de la rosa.


Las viejas melancolías
se van tras las alegres geometrías
a que ajusta las leyes de su danza.
Y como golondrinas tornan las ilusiones
a los polvosos rincones
donde encarnece la esperanza.



Rafael López
Obra poética


Salomé / imagem de Rafael Olbinski para a Ópera de Strauss


Herodíades (trecho)
Flaubert


Ella bailó como las sacerdotisas de las Indias, como las nubias de las cataratas, como las bacantes de Lidia. Se inclinaba hacia todos los lados, semejante a una flor agitada por la tempestad. Los brillantes de las orejas saltaban, la tela de sus ropas tornasolaba; de sus brazos, de sus pies, de sus vestidos brotaban chispas invisibles que inflamaban a los hombres. (...) Sin doblar las rodillas, separando las piernas, ella se dobló tanto que su mentón rozaba el suelo; y los nómadas, acostumbrados a la abstinencia, los soldados de Roma, expertos en todos los excesos, los avaros publicanos, los viejos sacerdotes amargados por las discusiones, todos, dilatando los agujeros de la nariz, palpitaban de deseo [.....] Su nuca y sus vértebras formaban un ángulo recto. Los vestidos que le cubrían las piernas, al pasarle por encima del hombro, como un arco iris, acompañaban a su rostro, a un codo del suelo. Tenía los labios pintados, las cejas muy negras, unos ojos casi terribles, y unas gotas en su frente parecían un poco de vapor sobre mármol blanco.


A Cabeça de Jochannan - Cronópio segurando o Sol



O CANTO DOS CRONÓPIOS
por Julio Cortázar


Quando os cronópios cantam suas canções preferidas, ficam de tal maneira entusiasmados que freqüentemente se deixam atropelar por caminhões e ciclistas, caem da janela e perdem o que tinham nos bolsos e até a conta dos dias.

Quando um cronópio canta, as esperanças e os famas acorrem a ouvi-lo embora não compreendam muito seu arrebatamento e em geral se mostram um tanto escandalizados. No meio da roda o cronópio suspende seus bracinhos como se segurasse o sol, como se o céu fosse uma bandeja e o sol a cabeça do Batista, de forma que a canção do cronópio é Salomé nua dançando para os famas e as esperanças que ali estão boquiabertos e perguntando-se se o senhor padre, se as conveniências. Mas como no fundo são bons (os famas são bons e as esperanças bobas) acabam aplaudindo o cronópio, que se recupera sobressaltado, olha em redor e começa também a aplaudir, coitadinho.

segunda-feira, novembro 08, 2004




Salome's Dancing-Lesson


She that begs a little boon
(Heel and toe! Heel and toe!)
Little gets- and nothing, soon.
(No, no, no! No, no, no!)
She that calls for costly things
Priceless finds her offerings-
What's impossible to kings?
(Heel and toe! Heel and toe!)

Kings are shaped as other men.
(Step and turn! Step and turn!)
Ask what none may ask again.
(Will you learn? Will you learn?)
Lovers whine, and kisses pall,
Jewels tarnish, kingdoms fall-
Death's the rarest prize of all!
(Step and turn! Step and turn!)

Veils are woven to be dropped.
(One, two, three! One, two, three!)
Aging eyes are slowest stopped.
(Quietly! Quietly!)
She whose body's young and cool
Has no need of dancing-school-
Scratch a king and find a fool!
(One, two, three! One, two, three!)

Dorothy Parker
Death and Taxes

Published/Written in 1931

domingo, novembro 07, 2004


Tielady



Salomé
Guillaume Apollinaire (1880 - 1918)


Pour que sourie encore une fois Jean-Baptiste
Sire je danserais mieux que les séraphins
Ma mère dites-moi pourquoi vous êtes triste
En robe de comtesse à côté du Dauphin

Mon cœur battait battait très fort à sa parole
Quand je dansais dans le fenouil en écoutant
Et je brodais des lys sur une banderole
Destinée à flotter au bout de son bâton

Et pour qui voulez-vous qu'à présent je la brode
Son bâton refleurit sur les bords du Jourdain
Et sous les lys quand vos soldats ô roi Hérode
L'emmenèrent se sont flétris dans mon jardin

Venez tous avec moi là-bas sous les quinconces
Ne pleure pas ô joli fou du roi
Prends cette tête au lieu de ta marotte et danse
N'y touchez pas son front ma mère est déjà froid

Sire marchez devant trabants marchez derrière
Nous creuserons un trou et l'y enterrerons
Nous planterons des fleurs et danserons en rond
Jusqu'à l'heure où j'aurai perdu ma jarretière
Le roi sa tabatière
L'infante son rosaire
Le curé son bréviaire


Salome admiring her work / Adrienne Simms



Salomé só
Carlos Careqa e Milton di Biasi

Chamem a polícia
Esta mulher
Disparou sem dó
Balas de malícia
Saia de pelúcia
Salomé, saló, só

Chamem o bombeiro
Que eu vi o fogo
Naqueles olhos afins

Fogos de artifício
É seu ofício
Detonar contra mim
E ela veio pra ficar
Deitar, rolar, saquear
Com seus olhos de arrastão
Mulher eu vou te pegar
Rasgar, arrebentar
Te enfiar na prisão

Imagem do Tarô de Greta Benítez

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Dessa vez não vou pentelhar o Ivanzinho para que traduza os poemas do Apollinaire e da Dorothy Parker. Não é bom forçar amizade. E depois, não vejo a hora de mudar de assunto. Cansei da síndrome de Rainha de Copas, "Cortem-lhe a cabeça !" Bem, perdi meus óculos depois que fiz xixi na prensa gigante da Imprensa Oficial. Bem feito, quem mandou? Ah, não tô nem aí. Hoje fiz 334.897 pontos no BlasterBall mesmo assim enquanto lembrava e ria. Palavra de Pantera cega: - eu adoro meus amigos. Uma bela noite que terminou num dia de sol, numa caminhada absurda com o namorado de volta pra casa. Ele sem sapatos (roxos!!), eu sem enxergar - mas muito, muito feliz. Dois loucos na tangente do abismo. E eu o amo.

A vida nos dá presentes vindos do nada. E a gente, sem pensar duas vezes, aceita. Caminha.
E agradece enquanto ainda está sorrindo.

Zoe